Ao meu entender, há algumas coisas que merecem destaque neste imbróglio envolvendo Globo, o assassinato de Marielle, e Bolsonaro:
1) A TV Globo talvez tenha até feito jornalismo sensacionalista e leviano na questão, mas judicialmente falando, está no seu direito. Quem falhou, neste caso, foi a Polícia Civil fluminense, que não deveria ter deixado vazar os detalhes de uma investigação que corre sob sigilo;
2) A negação/autorização do processo de concessão não se dá como Bolsonaro dá a entender que seja, como se sua “canetada” tivesse todo este poder. Desde que a emissora atenda todos os requisitos legais para continuar em funcionamento, judicialmente falando, a Globo consegue se manter no ar facilmente, pois não estamos numa ditadura, e a liberdade de imprensa é um dos pilares do Estado Democrático de direito;
3) Informar que o presidente será ouvido na investigação, não é acusá-lo. Há uma distância considerável entre uma coisa e outra. Não sei porque tanto nervosismo por parte de Bolsonaro, que também tem o direito de externar sua indignação, mas deve agir com o equilíbrio de um chefe de Estado. Inclusive, negada sua participação no caso, há uma grande possibilidade de ele até sair fortalecido, ao final de tudo;
4) Com todo asco que eu sinto por este pseudo-presidente, não creio que haja participação dele na morte da vereadora carioca. Mas as suspeitas sob Bolsonaro pairam exatamente por conta do seu comportamento irresponsável ao elogiar as atuações das milícias e dizer que elas são “bem vindas” em determinadas situações. Vale lembrar que um dos seus filhos postou uma foto quebrando uma falsa placa de nome de rua que fazia uma homenagem à Marielle Franco. Em depoimento dado à revista Época, uma das sobreviventes ao assassinato disse que o filho do presidente – Carlos Bolsonaro – tivera uma briga com um assessor de Marielle dentro da câmara, e que a mesma interviu, ameaçando chamar a segurança. Enfim, são circunstâncias que, para os investigadores, merecem ser consideradas e esclarecidas: Este é o papel da polícia;
5) Bolsonaro supõe que o porteiro tenha mentido no seu depoimento. Sim, pode ser. Mas supôs também que a Polícia Civil tenha agido em favor do Governador Wilson Witzel, dando a entender que os órgãos oficiais de segurança poderiam atuar de forma tendenciosa, ao bel prazer dos chefes do executivo. Tomando-se em conta sua linha de raciocínio, isso não sugere também que ele, Bolsonaro, poderia agir assim, com a Polícia Federal, por exemplo? Se assim for, não estamos falando das atuações das polícias em democracias. Isso se parece mais com atuações policiais em estados de exceção, como a KGB ou Gestapo, por exemplo.
* O Eldoradense
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