2 de mai. de 2018

Mais um trágico 1º de maio...




   Ontem fez 24 anos do acidente que levou ao óbito o piloto brasileiro Ayrton Senna. Difícil não se lembrar daquele dia em que um país carente de referências vitoriosas perdia aquele que, empunhando a bandeira nacional na linha de chegada, trazia alento a um povo calejado com tanto sofrimento e desprovido de  perspectivas.

   Por ironia do trágico destino, na madrugada de ontem, e no centro da maior cidade do país, um prédio desativado e ocupado clandestinamente por pessoas sem moradia, incendiou-se e ruiu, numa cena dantesca, que materializa o total descaso das autoridades públicas para com seu povo.

   Quem assistiu ou leu as reportagens sobre o acontecimento viu pessoas chorando desesperadamente, pois haviam perdido tudo o que tinham, mesmo sendo o "tudo" tão pouco. Viu refugiados estrangeiros pranteando o sonho da prosperidade transformado em pesadelo. Viu mães jovens com três ou quatro filhos, famílias formadas ao léu, consequência da falta de política educacional, da desinformação e de orientações mínimas de planejamento. Choro malvestido, desdentado, choro semianalfabeto, e principalmente, choro desamparado.

    E aí, no contexto da ausência de política habitacional por parte do Poder Público, é noticiado que a coordenação de um destes movimentos sociais que clamam por teto cobrava aluguel por aquela moradia precária, muito provavelmente beneficiando bolsos oportunistas daqueles que exploram os que não tiveram oportunidades. É a ausência do Estado fomentando poderes paralelos, hipócritas, que se criam através da omissão do Poder Público e das falsas promessas que alimentam sonhos mesclados de ingenuidade e desespero. 

   Não menos oportunistas foram os políticos que buscaram visibilidade diante do fato, como se fizessem daquela ocasião, um termômetro que mensurasse suas respectivas popularidades. Não por acaso, Michel Temer saiu escorraçado dali, vergonhosamente protegido por policiais, quando na verdade, políticos da sua estirpe têm responsabilidade direta sobre acontecimentos desta natureza. 

    Os mais maleáveis dirão que o que ocorreu ontem foi "obra do acaso", mas não: a tragédia foi fruto do descaso! Vinte e quatro anos depois da morte de Ayrton Senna, o Brasil segue com poucas referências vitoriosas e de sucesso, com bandidos vazando pelo "ladrão" e heróis cada vez mais escassos. Se um dia fomos o tal "país do futuro", hoje parece que o futuro é uma linha inatingível, abortado numa destas curvas perigosas, marcadas pela sinuosidade traiçoeira da corrupção e da incompetência.

* O Eldoradense

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