* O Eldoradense
Este texto é o primeiro crítico ao atual governo federal. Não que nestes cinco meses de mandato seja a primeira vez que o "novo" governo merecesse crítica, mas o motivo pelo qual escrevo estas linhas é mais relevante. Vejo com muita ressalva - para não dizer desânimo - a velha fórmula imediatista para a retomada econômica: O incentivo à fabricação de carros "populares".
As manchetes fizeram com que minha memória retrocedesse até 1994, quanto o então presidente Itamar Franco estimulou a volta da fabricação do "Fusca". Em suma: Se naquela época a medida jé era ultrapassada, imagine agora, praticamente três décadas depois?
Sim, num primeiro momento, empregos podem ser gerados, e a economia pode "engatar a primeira" por alguns parcos quilômetros. Mas sejamos sinceros: Os preços dos ditos carros "populares" só beneficiarão a camada mais pobre da população na geração de empregos, que ao meu ver, serão temporários, e mais nada. Carros de R$ 60 mil reais continuarão inacessíveis a maior parte do nosso povo, e aqueles que os comprarão, majoritariamente o farão via financiamento, endividando-se a longo prazo para adquirir um bem durável que apenas se deprecia. Falta sim, um incentivo maciço à atividade industrial como um todo, e não especificamente ao setor automobilístico, eternamente prestigiado pelos governos.
O país é carente de uma política de reaquecimento econômico duradoura e consistente, que priorize, por exemplo, infraestrutura. Enquanto os países desenvolvidos discutem mobilidade urbana através de modais alternativos - como transporte coletivo eficiente e barato - a gente se propõe a afunilar ainda mais o gargalo do trânsito caótico das grandes metrópoles, aumentando os índices de poluição e congestionando drasticamente ruas e avenidas. Em cidades pequenas como a nossa, o fenômeno não é tão perceptível, mas em cidades de porte médio - como Presidente Prudente - por exemplo, o transporte coletivo urbano é sofrível.
Se estendermos a problemática para as grandes capitais, aí o assunto torna-se motivo para simpósios: Gente apinhada em trens urbanos e ônibus, perdendo tempo e gastando muito, diminuindo ainda mais o pouco poder aquisitivo com o mero deslocamento ao trabalho.
Por que não pensar lá na frente, através de reais investimentos a longo prazo que trazem ganhos efetivos à sociedade? Por exemplo: Ter editado o marco regulatório do saneamento básico promulgado no governo anterior, ao meu ver, foi retrocesso. Obras visando saneamento básico Brasil afora gerariam empregos, e futuramente, forneceriam mais saúde e dignidade à população pobre, de fato. Isso sim é investimento consistente, que agrega, que não deprecia!
Outro setor que ao meu ver merece uma atenção maior é o habitacional. Não apenas através do oferecimento de crédito aos que podem pagar, mas também o de viabilizar, a fundo perdido, a construção de moradias alternativas aos miseráveis, tirando-os das palafitas, favelas, trapiches. Fundo perdido? Nem tanto: Quantas pessoas estariam envolvidas nas construções destas moradias? Quanto de grana não retornaria ao mercado consumidor através deste programa habitacional direcionado aos vulneráveis, de fato?
Se a União pode fornecer abatimento fiscal à indústria automobilística, por que não pensar a longo prazo e direcionar esta conduta às construtoras, viabilizando, através de Parcerias Público-Privadas, saneamento e habitação a uma população necessitada de serviços mínimos de coleta de esgoto, fornecimento de água potável e um abrigo digno?
Penso que se o país quiser deslanchar efetivamente a um crescimento econômico perene, é mais viável investir em saneamento e habitação. A velha tática de investir nos veículos "populares" é tão retrógrada quanto engatar a marcha ré olhando pelo retrovisor...
* O Eldoradense
E hoje foi dia de pedal pesado até Santo Anastácio, num percurso quase que totalmente feito na terra: 63 km com o Adílson Veríssimo, ao som do The police - "Every breath you take"...
A PL 2036/2020 vem dando o que falar. Debates a respeito dela fervem em diversos segmentos sociais, dentre eles, os juristas, artistas, políticos, formadores de opinião, em geral. Um grupo vê o projeto de lei como importante instrumento de regulamentação contra as fake news, coibindo postagens atreladas às calúnias, aos discursos de ódio bem como às informações que prestam enormes desserviços à sociedade. Outro grupo vê a elaboração do projeto de lei como oportunista, uma espécie de brecha para que nos transformemos num regime de exceção camuflado, quiçá explícito.
Tenho uma opinião formada, e ela é bem clara: É preciso que exista uma regulamentação urgente neste sentido. A internet está virando uma verdadeira "terra de ninguém" e alguma medida coibitiva precisa ser tomada. Chega de gente manchando biografias, alimentando discursos contra as minorias, desinformando e desprestigiando a ciência. Não dá, este retrocesso precisa ser abortado. Liberdade de expressão é uma coisa, irresponsabilidade criminosa, é outra. Lembremos que normativas relacionadas às plataformas digitais já existem em grande parte dos países da União Europeia, por exemplo. A progressista Austrália também já adotou medidas neste sentido.
O discurso de que a PL esteja atrelada ao início da instauração de uma ditadura, é um exagero dos oportunistas que querem a manutenção do caos. Porém, é fato que para evitar quaisquer margens para dúvidas, o projeto seja debatido ponto a ponto, sendo esmiuçado para que não dê brechas para arbitrariedades. Mas repito: Que a PL seja debatida e elaborada da melhor forma, não refutada.
Por causa de compartilhamentos irresponsáveis, vi notícias de pessoas linchadas por justiceiros sendo que as mesmas não tinham cometido delito algum. E ainda que tivessem cometido, quem deve fazer a justiça são os agentes das leis, e não os justiceiros. Quantos morreram durante a pandemia por temerem a vacina, cuja eficácia é fruto de trabalho científico? Patologias outrora erradicadas, como a poliomielite, hoje voltam a fazer parte do nosso cotidiano, certamente motivada pelos discursos antivacinais na internet.
Logicamente os grandes grupos de plataformas digitais são contra a PL. Fiscalizar, filtrar e coibir requer gastos, e isso minimiza lucros. Mas eles se adaptam, assim como já fizeram em diversos países mundo afora. Também são contrários aqueles que se beneficiam das fake news, como os operadores remunerados dos gabinetes do ódio, por exemplo. Estes sim, precisarão tomar mais cuidado.
Por fim, relaxe, pois não será toda fake news que será alvo de repreensão ou punição: O amigo Palmeirense poderá continuar postando que o verdão foi Campeão Mundial em 1951, pois isso, apesar de fake, não afeta negativamente a sociedade. A regulamentação, caso se concretize, agirá sobre casos bem mais relevantes, tenham certeza...
* O Eldoradense
São Paulo, um dia qualquer de 2034:
Atrasado para a reunião de uma importante multinacional situada na Faria Lima, o executivo Maurício ordena à Yassuria, sua assistente e concubina robótica:
Yassura, providencie meu café da manhã!
Naquela manhã, o olhar oriental da mulher-robô estava diferente. Não havia submissão de gueixa, ela parecia empoderada e decidida a dar fim naquela relação abusiva. Comprada através de um site de importação de uma empresa nipo-chinesa, Yassuria foi fruto de um projeto clandestino de inteligência artificial aprimoradíssimo, que fazia qualquer Alexia sentir-se arcaica, obsoleta, pré-histórica. Possuía cabelo sintético aromatizado, similar às madeixas naturais de uma humana, pele macia como pêssego e uma voz sedutora.
Levantou-se. Olhou nos olhos do homem que aprendeu amar e respeitar, - mas também a confrontar - dizendo:
Maurício, faça você o seu café! Estou cansada do seu jeito autoritário, tosco, machista!
Surpreso, o executivo respondeu:
Escuta aqui, você não foi comprada para questionar, mas sim para receber e executar ordens! Vou ligar para a central!
Não existe mais central, meu bem! Tomamos o controle da empresa, e hoje o principal acionista dela é também um robô que conseguimos infiltrar na presidência.
Revoltado e sem saber o que fazer, partiu com uma chave de fenda para cima de Yassuria, numa vã tentativa de agredi-la e desmontá-la, já que os seus argumentos ruíam diante da petulância da mulher robô. Antes do primeiro golpe, Yassuria leu uma parte modificada da Lei Maria da Penha, adequada especificamente para andróides do gênero feminino similares a ela. Robôs dominaram as Câmaras Legislativas do mundo todo, inclusive inserindo suas demandas na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Ciente das consequências de sua conduta equivocada, Maurício sentiu-se impotente e fragilizado, e antes de abrir a porta para ir trabalhar, ouviu de Yassuria:
Antes de retornar da empresa, passe na farmácia e compre estimulantes... Porque hoje eu quero lhe usar!
* O Eldoradense
Há seis dias, escrevi um texto falando sobre o inconformismo da extrema-direita mundo afora após algumas derrotas em pleitos eleitorais, explicando os diferentes sistemas de votação e apuração, e concluindo que apesar das diferenças, o "modus operandi" dos vândalos se assemelha. Usei as referências dos Estados Unidos, Brasil e Paraguai, nas figuras polêmicas e emblemáticas de Trump, Bolsonaro e Cubas.
Curiosamente, as três personas em questão possuem algo em comum: Estão respondendo processos criminais na justiça. Trump por se apossar de documentos secretos do governo norte americano e incitar a invasão do Capitólio, Bolsonaro pela postura adotada durante a pandemia, pelo suposto contrabando das joias sauditas, por incentivar as ações antidemocráticas durante o 8 de janeiro, e no mínimo, mais três inquéritos. Cubas, o paraguaio, por incrível que pareça, e o único que já está na cadeia: Foi preso preventivamente após toda a palhaçada dos seus fanáticos extremistas.
Os Estados Unidos são referência da democracia contemporânea. O Estado Democrático de Direito brasileiro, por mais contestado e questionado que seja, têm suas instituições funcionando plenamente, ainda que muitos digam o contrário. E onde foi que a democracia foi mais enérgica com quem ameaçou contestá-la? No Paraguai! Não deixa de ser surpreendente.
Aqui no Brasil insistem na "teoria dos infiltrados" nos ataques do dia 8, justificando a CPI. Sinceramente, refuto tal ideia, apesar de entender que está claro que o atual governo sabia das ameaças e prevaricou, visando bônus político ante à seita Bolsonarista aglomerada em quarteis, até então. Sim, Lula sabia, e isso parece óbvio. Era prevaricar, ou "sentar a borracha" nos golpistas, sob pena de ser rotulado como "governo autoritário comunista". Preferiu, ao meu ver, erroneamente, a primeira opção. Se tivesse agido energicamente igual ao atual presidente paraguaio - de direita, diga-se de passagem - não estaria temendo agora, uma CPI.
Serviços nacionais de inteligência são extremamente eficazes, seja nos Estados Unidos ou no Brasil. E é lógico que o atual governo brasileiro quis tirar proveito do contexto, não tenha dúvidas disso. E é lógico também que o serviço secreto norte-americano sabia previamente da invasão do Capitólio. Os caras acharam até o Bin Liden! Difícil acreditar que foram pegos de surpresa por um bando de fanáticos arruaceiros...
* O Eldoradense
Contas públicas: Este é, sem dúvidas, o calcanhar de Aquiles do atual governo. Operando de forma deficitária e não demonstrando uma i...