27 de abr. de 2023

Comentário: "Gourmetizar a educação"

 



      Levando-se em conta apenas o conceito específico da palavra, restrito ao segmento gastronômico, gourmetizar é sofisticar um prato e todo o ritual de serví-lo ao cliente, dando ao produto uma estética que aguce os sentidos do consumidor, tornando o simples ato de se alimentar uma experiência mais agradável e abrangente,  extrapolando o sentido único do paladar. É lógico que todo este processo agrega valor final ao produto.

    Porém, considerando  que "gourmetizar" ao mesmo tempo possa ser uma analogia ao conceito de "sofisticar", percebemos que  o verbo vem se tornando uma prática constante em outros segmentos de prestações de serviços. Tomemos dois exemplos práticos:

     O sujeito que frequentava uma barbearia há trinta, quarenta anos atrás, perceberá as nítidas diferenças na prestação deste serviço ao longo dos anos. Os estabelecimentos simples com toalhas, lavatório, cremes de barbear e navalhas deram lugar a um espaço diferenciado: A decoração do ambiente, os serviços complementares, as sugestões do profissional e o atendimento. Agregou-se valor ao espaço físico e também ao conhecimento técnico do prestador de serviços. O mesmo vale para os motoristas de veículos que conduzem passageiros: Quem toma um táxi ou solicita os serviços de um condutor de veículo por aplicativo, percebe que hoje a experiência vai muito além do deslocamento espacial. O conforto climático e das dependências do automóvel, a oferta de doces, água e música fazem a diferença no trajeto.

     Sei que pode parecer bastante supérfluo ou até mesmo "frescura" falar de sofisticação num país que voltou a fazer parte do mapa mundial da fome. É importante salientar que a oferta de educação formal de qualidade - seja ela técnica ou não - são importantíssimos neste processo evolutivo da prestação de serviços. Indivíduos que se comunicam melhor, com maior nível educacional, com conhecimento teórico e prático tornam a economia mais competitiva, mais qualificada, menos suscetível ao trabalho informal, análogo a escravidão, ao subemprego.

     Com a evolução da educação, do conhecimento técnico, são inseridos no mercado de trabalho profissionais mais qualificados, inovadores, gestores! Consequentemente, surge também uma clientela mais exigente. Sofistica-se a economia, a sociedade, eleva-se o padrão de desenvolvimento humano.

     Porém, este processo de sofisticação não pode ser concentrado, restrito, elitista, pois sendo assim, não há incremento econômico efetivo em termos de desenvolvimento. Pode haver bolhas de crescimento, insuficientes para uma sociedade mais justa e harmônica. Conclui-se então que para que tenhamos uma sociedade menos caótica e desigual, é de suma importância a gourmetização da educação e da cultura. E infelizmente, também neste sentido, somos uma sociedade faminta...

* O Eldoradense     

26 de abr. de 2023

Segundo pedal para Santo Expedito: 75 km!

   E hoje foi dia do meu segundo pedal para Santo Expedito, desta vez acompanhado do amigo Adílson Veríssimo. Foram 75 km de muita fé e perseverança, testados principalmente quando o pneu da bike do Adílson furou, e ficamos dependendo do socorro vindo de Venceslau, a cargo do Nélio Freitas e do Danilo Sepúlvida. Problema contornado em uma borracharia de Emilianópolis, e seguimos pedalando até o destino final, cumprindo o objetivo até então pré estabelecido.  Abaixo, o vídeo produzido pelo Facebike, com imagens gravadas no caminho ao som do Skank: "Andar com fé"... 




* O Eldoradense 







21 de abr. de 2023

Comentário: "Jesus Cristo e Tiradentes"...

 





    A primeira comparação íntima que fiz entre os dois personagens deve ter sido nos meus primeiros anos de estudante, nos livros de história: Ao ver o nosso revolucionário nacional ostentando vasta cabeleira e barbas longas, foi difícil evitar o paralelo ao homem que revolucionou o mundo, cujo nascimento serviu de referência para o calendário ocidental, e que fez o império romano converter-se a uma religião que até então, ganhava os primeiros adeptos. 

    Por muitos anos, o comparativo ficou adormecido, mas neste ano, em especial, creio que mereça um texto, e explico o porquê: Quatorze dias separaram a sexta-feira santa do feriado em homenagem à Tiradentes. Duas sextas-feiras, dois feriados, duas histórias que se parecem. Dois personagens, que, na realidade, provavelmente não se pareçam tanto fisicamente.

      Sim, fazendo pesquisas na internet, é fato que houve uma aproximação romântica da nossa história que assemelhou as imagens de Joaquim e Jesus: Imagens icônicas de ambos com barbas e cabelos longos, como relatado no primeiro parágrafo. A história mais séria e minuciosa os difere, mas também os aproxima das distorções iconoclastas. Enquanto muito provavelmente Jesus tivesse cabelos negros e pele queimada de sol - característica originária do seu povo - Tiradentes provavelmente não ostentasse barbas nem cabelos longos, pois foi um militar sujeito às regras da época, que permitiam aos alferes, no máximo, ostentar um bigode. 

      Jesus nos aparece quase sempre como uma divindade nórdica: Olhos e cabelos claros, provavelmente sob influência da cultura europeia ocidental. Tiradentes, por sua vez, enquanto prisioneiro, provavelmente teve cabelos e barbas raspados por conta das regras impostas aos prisioneiros do Brasil Império. 

          Porém, na história real, há semelhanças que não devem ser ignoradas: As letras iniciais dos nomes de ambos é uma delas. Sim, o "J" de Jesus e Joaquim. Enquanto Jesus tinha seus apóstolos, Tiradentes pertencia a um grupo chamado de inconfidentes. Ambos foram traídos, e aí, novamente o "J" aparece quando se trata dos seus algozes: Judas recebeu trinta moedas de prata, enquanto Joaquim Silvério o fez em troca do perdão de suas dívidas para com a Coroa Portuguesa.

       O Império Romano consumou a morte de Jesus em uma cruz, mais por influência dos judeus do que pela vontade de Pilatos. Tiradentes foi preso durante três anos e foi sentenciado à pena capital numa forca, sem qualquer menção de piedade do Império lusitano.

      É fato, que, resguardadas as devidas proporções, ambos foram imortalizados: O primeiro, mundialmente, e o segundo, a nível nacional, recebendo nomes de inúmeras avenidas e monumentos Brasil afora. A grande diferença atemporal é em forma de alíquota: Enquanto Joaquim lutava contra os vinte por cento de impostos cobrados sobre o ouro encontrado pelos mineradores, muitos cobram dez por cento dos ganhos daqueles que buscam a salvação de Jesus...


* O Eldoradense

        

13 de abr. de 2023

Comentário: "O reflexo de uma sociedade doente"

 



   Existem assuntos de complexidade tamanha que é difícil discorrer sobre. A onda recente de ataques às escolas brasileiras é um deles. Uma modinha macabra que vem tirando o sossego de pais, crianças e profissionais da educação. Porém, na internet e nas redes sociais há os que conseguem piorar aquilo que já está ruim: disseminação de fakes sobre novos ataques, bem como soluções mágicas e mirabolantes, como se colocassem um urubu na cartola e em questão de segundos saísse a pomba da paz, livre, leve e solta.

    É fato que uma gama de sugestões pode atenuar as ocorrências. Mas há sugestões que realmente parecem partir de alguém tão psicopata quanto os autores dos ataques: Professores armados é a que mais me deixou perplexo. Sim, alguma mente brilhante resolveu disseminar que estes profissionais que mal têm condições de lecionar também devam ser vigilantes em sala de aula, e, em caso de intercorrência grave, intervir com uma arma. 

     É fácil terceirizar responsabilidades. Sim, sei que é legítimo reivindicar maior número de rondas escolares, sugerir portas com detectores de metais, e talvez, numa hipótese mais emergencial, clamar por vigilantes no interior das instituições de ensino. Mas o problema é que a sociedade está doente, e pouco se fala sobre isso. Os pais que pouco conversam com os filhos querem que eles sejam protegidos, e a causa é justa. Contudo, convivem tempo insuficiente com os mesmos. Cada integrante da família em um cômodo, com seus respectivos aparelhos celulares, vivendo cada vez mais as realidades paralelas e virtuais. Não se dialoga na mesa, não se questiona o dia a dia, se tudo está correndo bem, se o convívio com os amigos está sendo harmônico, se está havendo bullyng, racismo, intolerância. Sim, o bullyng, que minha geração diz que é "frescura", "mimimi", e que nós - os fortes? -  "resolvíamos no braço". Pois é, agora tem gente resolvendo a questão com armas, descarregando frustrações e hostilidades na lâmina ou na bala. Sim, o texto pode parecer duro, mas não há como eximir a parcela de culpa de uma sociedade cada vez mais fria e individualista.

     Patologias de ordem psicológica e psiquiátrica estão cada vez mais presentes na vida moderna, e ninguém está livre delas. A omissão e o preconceito em buscar ajuda podem custar caro tanto ao indivíduo quanto àqueles que os rodeia. Vigiar, questionar dentro de casa seja talvez o começo de tudo. Evitar o vício tecnológico faz parte do processo. Jovens precisam interagir, praticar esportes, tocar instrumentos, ler, dançar. Habilidades e potencialidades devem ser exploradas. Enfim, são mentes com neurônios em expansão que precisam de estímulos sensoriais qualitativos, que agreguem, acrescentem.

    Portanto, creio que para que alguma mudança efetiva ocorra é preciso sim, exigir posturas vigilantes. Mas a vigília externa pouco adiantará se ela não começar dentro de cada um dos lares...


* O Eldoradense    

     

3 de abr. de 2023

Alfinetada: "Água santa"

 Ontem tive a oportunidade inédita de assistir a uma missa de domingo de ramos, data importantíssima para o catolicismo.  Foi muito interessante testemunhar as folhas de palmeiras sendo benzidas e sapecadas pela água santa...

* O Eldoradense 


Comentário: "O tio França foi uma vítima"

    Ontem à noite, em Brasília, aconteceu o que penso ser o ápice do delírio Bolsonarista: Um homem trouxe explosivos em seu próprio corpo, ...