28 de dez. de 2022

Conto: "Odnan e o gelo filosofal"

 


    

   Odnan era um jovem inquieto, que tinha uma sede insaciável de conhecimento. Consumia livros de forma voraz, como se fosse um beduíno bebendo o último litro de água gelada e cristalina no deserto. Não se contentava com uma explicação, queria saber outras versões sobre o mesmo assunto, outros prismas, outras vertentes. Muitas vezes tirava a sua própria conclusão, mas, por várias vezes, as dúvidas o afligiam. Até que num momento de transe sobrenatural, seu subconsciente materializou um gênio bem na sua frente, ao lado da prateleira de livros e do computador...

     Fala, Odnan, o que você quer?

     Quem é você?

    Sou um gênio, tipo daqueles da lâmpada, mas nem venha fazer três pedidos. Comigo é apenas um, e fala logo que eu não tenho tempo a perder...

    E-eu... E-eu... Eu quero ter o conhecimento pleno de tudo!

   Toma. Este é o gelo filosofal, e, como todo o conhecimento adquirido, ele não se derrete, a não ser que eu tenha que intervir. Toda dúvida que você tiver, toque no gelo e teu subconsciente lhe trará, automaticamente, a resposta.

    Sé.. sério? 

   Odnan fez um teste. Pensou qual seria a raiz quadrada de 3.908.529. Rapidamente o número 1977 apareceu em sua frente. Pensou na capital de um país desconhecido: Tuvalu. Como num passe de mágica, o nome Funafuti soou em seus ouvidos. Ficou maravilhado! Carregava o gelo filosofal consigo por todos os lugares, sem abandoná-lo por um segundo sequer.

   E assim Odnan tornou-se um adulto respeitado por tamanha sabedoria. Prestava consultorias empresariais, governamentais, consertava rádio, casamento, garapeiras e reatores nucleares.

   Fez fama, fortuna, viveu numa correria desenfreada movida pela vaidade de quem tudo sabia. Até que no aniversário de 42 anos, numa crise de meia idade, começou a pensar na morte. O que viria depois dela? Largou os convidados trajados a rigor no saguão de sua mansão, e para se concentrar na resposta, tocou o gelo filosofal. Obteve meia resposta: "Só Deus sabe. Mas você pode recorrer a alguns livros e até a algumas pessoas para tentar uma resposta que o convença. Caso contrário, só morrendo mesmo, para saber, de fato".

     Desesperado, abriu a Bíblia sagrada, que dizia que as almas permaneciam adormecidas até à volta de Jesus, aguardando o julgamento final.  Não contente, recorreu à literatura Kardecista, que dizia que os espíritos desencarnavam procurando evolução constante. Mandou uma mensagem para um amigo ateu, que disse que após a morte, nada mais acontecia, e que este era o fim da linha.

     Três versões diferentes para um mesmo assunto. E deveriam ter mais respostas dentro de outras culturas, outras religiões. Percebeu que não tinha o conhecimento pleno, que não sabia de tudo! Atônito, abriu o cofre e empunhou a arma que tinha adquirido legalmente por ser "colecionador". Só passando para o outro lado da vida é que teria a resposta, de fato...

     Eis que um sujeito estranho, penetra da festa, entrou no quarto trajando smooking e bebendo uísque. Suas mãos quentes como lava de vulcão derreteram o gelo filosofal em um milésimo de segundos. 

     Tua ambição por conhecimento já foi longe demais, alcançou o patamar da heresia! Recolha-se à insignificânca de um mortal comum...

     Houve um fenômeno neurológico no cérebro de Odnan, como se fosse uma diminuição nas descargas elétricas. Uma contração sensorial, uma espécia de "Big Bang cerebral às avessas". Ele manteve-se culto, articulado, mas dentro dos padrões normais de alguém que construiu o conhecimento, e não o adquiriu repentinamente. Bebeu, dançou e comemorou o aniversário de 42 anos. 

    Enquanto isso, o velho gênio que trajava smooking e bebia uísque aguardava o Uber no portão principal da mansão de Odnan: Era hora de partir para nunca mais atender os desejos de nenhum humano megalomaníaco. Ele também aprendeu uma lição genial, por incrível que pareça...

* O Eldoradense    

19 de dez. de 2022

Comentário: "A maior final de Copa de todos os tempos!"

 



   E ontem encerrou-se mais um episódio da emocionante e glamourosa história das Copas do Mundo de futebol. Muitos dizem que é o maior espetáculo da Terra, e sinceramente, não tenho motivos para discordar. A quantidade de espectadores diante do evento é gigantesca, a mobilização dos torcedores, a alegria das vitórias, o choro nas derrotas formam todo um contexto incrivelmente emocionante que reforça a tese. 

    Argentina e França foram os qualificados para fazer o último embate. Ambos chegaram ao epílogo carregando uma derrota na primeira fase, mas é fato que ambos os selecionados também demonstraram uma enorme capacidade de recuperação e mesmo antes do confronto, a expectativa era de uma final épica.

    Porém, admito: Por mais que eu imaginasse que a final seria uma grande partida, era difícil prever algo tão dramático, tão intenso, tão perfeito levando-se em consideração a qualidade do jogo, a entrega, a beleza do espetáculo.

      Jogadores realizando o melhor de si, tanto do ponto de vista técnico quanto tático. Os regentes das duas seleções não foram meros espectadores dos seus comandados: Tiveram leitura pré jogo e durante a partida, variando as possibilidades de alternância de placar. O técnico Argentino foi melhor na escalação inicial, o francês, sem dúvidas, foi mais eficaz nas alterações que recolocaram os "Le blues" num jogo que até os 78 minutos - também conhecidos como 33 do segundo tempo - parecia perdido.

    Messi e Mbappé justificaram seus respectivos protagonismos. "Representaram", usando uma linguagem mais popular. A prorrogação foi tão intensa quanto a etapa regular de jogo, com mais um gol para cada lado. A França, naquela que talvez fosse a bola do título, perdeu a chance de fazer 4x3 numa defesa heróica do goleiro portenho.

    Nos pênaltis, deu Argentina. Há quem diga que pênalti é loteria, mas ao meu ver, isso rechaça toda a competência, técnica e equilíbrio emocional dos cobradores e goleiros. E neste pequeno detalhe, los hermanos foram superiores. Uma vitória ocorrida dentro da margem de erro de duas conversões a mais para Messi e seus companheiros. O título por uma questão de destino, parecia mesmo ser Argentino, com todas as características deste povo: Buscado no âmago, visceral, dramático, intenso, como um bom tango de Gardel. Mas é fato que se se a taça fosse novamente para Paris, também não seria injusto, tamanho o equilíbrio ocorrido dentro do campo. 

     Provavelmente, encerrou-se o ciclo "Messiânico" nas Copas, com justiça e chave de ouro. Mas ficou claro que há uma transição animadora: Mbappé tem juventude e futebol de gente grande, prometendo encher os olhos não só dos franceses, mas também como de todos os amantes do maior espetáculo da Terra. Aos deuses do futebol, muito obrigado por ontem, mesmo com a seleção brasileira ausente do fim da festa. Afinal, todo deus tem que ser justo:Mesmo aqueles escritos com letra minúscula para assuntos menos sérios...


* O Eldoradense

17 de dez. de 2022

16 de dez. de 2022

Facebike torcendo pra Argentina na final: "Los ladrones sueltos" - "La rubia del avion!"

    E o Facebike de hoje resolveu aderir à torcida Argentina para a grande final da Copa do Mundo, diante da França. No percurso, o som da banda "Los ladrones sueltos", tocando "La rubia del avión"...


* O Eldoradense


10 de dez. de 2022

Vídeos curiosos: Sobrevoando Presidente Epitácio de balão...

   E hoje o blog deu um tempo na bike e resolveu aderir a um outro esporte de ação: O Balonismo, num sobrevoo muito bacana em Presidente Epitácio. Confira:



* O Eldoradense


1 de dez. de 2022

Comentário: "O perfil do bom professor de geografia"

 



          Escrevo este texto em manifestação de solidariedade a dois profissionais de educação que supostamente foram demitidos de um colégio particular de Presidente Venceslau por motivação política. O caso deu pano pra manga. Logicamente a instituição de ensino alega "reestruturação pedagócia", enquanto alguns pais de alunos reforçam a tese de perseguição política. Diante do quadro de polarização latente no país, outro grupo de pais de alunos rechaçam a tese. Sinceramente eu não conheço as partes envolvidas, e caso a questão atinja níveis litigiosos, o Ministério Público do Trabalho é certamente  o julgador mais apropriado. 

     A manifestação de solidariedade é pelo contexto: Se foi perseguição política, de fato, é lamentável. Se foi por reestruturação pedagógica, seria compreensível, porém, a polêmica em si e o constrangimento de encerrar um ciclo desta forma, não é menos lamentável. 

       Enquanto graduado em Geografia numa das mais renomadas instituições públicas universitárias do país - sim, digo isso com muito orgulho e sem qualquer falsa modéstia - sei que lecionar a disciplina requer muito mais do que o simples repasse de conhecimento técnico: É preciso estimular o senso crítico, formar não apenas o aluno, mas também o cidadão consciente do seu papel na sociedade.

        A Geografia se divide basicamente em duas ramificações: A Física e a Humana. Na Geografia física se ensina, por exemplo, a morfologia dos relevos, hidrografia, clima, vegetação, a formação dos continentes e dos oceanos. Na Geografia Humana há o repasse do conhecimento sobre a interação humana com os acidentes geográficos citados acima, bem como a noção cartográfica básica para entender estas interações: Atividades econômicas em determinado espaço, degradação ambiental, sustentabilidade, por exemplo. Porém, a Geografia Humana também flerta com outras ciências em seu vasto conteúdo: Sociologia, História e Filosofia são algumas delas.

    Agora, amigo leitor, vos pergunto: Como lecionar a dinâmica dos ecossistemas sem falar de desmatamento e poluição, por exemplo? Como explicar efeito estufa, destruição da camada de ozônio sem falar de políticas ambientais ou a falta delas? Como, dentro da Geografia Humana, falar de países desenvolvidos e subdesenvolvidos, capitalismo de centro e periférico, socialismo, comunismo, democracia, ditadura, num discurso desprovido do conteúdo político? Impossível. Seria como lecionar matemática sem números.

     Enfim, o bom docente de geografia vai muito além do simples repasse do conhecimento: Ele provoca, estimula, indaga. Do bom e complexo trabalho deste profissional resulta alunos preparados para os processos seletivos mais  importantes da atualidade: O ENEM e os vestibulares, por exemplo. Alunos desprovidos do senso crítico e limitados apenas ao conhecimento técnico, obviamente ficarão para trás nesta disputa, pois teriam limitação de conteúdo. E é no estímulo ao debate em sala de aula que muitos alunos e inclusive pais de alunos confundem a prática com militância política. O professor explana seu ponto de vista pessoal, cabe ao aluno, que tem livre arbítrio, concordar ou discordar. A tese de "doutrinação", por si só, trata o aluno como um ser desprovido de opinião própria. Ainda que seja um ser em formação, o aluno não é um acéfalo, e vem para a sala de aula com influências e informações do ambiente familiar, também. O aluno é livre e capacitado para tirar suas próprias conclusões.

    Enfim, fica o manifesto de solidariedade aos profissionais demitidos pelo contexto polêmico no qual se deu o processo. Homenageio nestes parágrafos Teodoro Sampaio, um dos primeiros geógrafos deste país, e também Milton Santos, o maior ícone da geografia nacional. Ambos de origem humilde e afrodescendentes. Força e fé, amigos! Ainda chegará o dia em que os educadores serão respeitados pela classe política e pela sociedade. Não leciono, nunca lecionei, mas me considero um "professor desviado da função": Circunstâncias da vida...


* O Eldoradense       

Comentário: "O tio França foi uma vítima"

    Ontem à noite, em Brasília, aconteceu o que penso ser o ápice do delírio Bolsonarista: Um homem trouxe explosivos em seu próprio corpo, ...