O texto abaixo tem inspiração na cena de uma novela, ainda que sinceramente, eu não assista novelas há algum tempo. Nem sequer assisto a que inspirou o texto, mas mesmo assim, sabia que a cena de violência sexual ocorrida contra um dos personagens aconteceria, pois há algum tempo já se falava isso nas notícias de entretenimento da internet.
Foi avisado, exatamente para que só os que quisessem assistir o fizessem, no intuito de minimizar o choque. Ainda assim, causou repulsa, e se este foi o sentimento do espectador, é sinal que a cena foi bem feita. Repito, não vi.
Quando o assunto é ficção, estou preferindo ler livros e ver vídeos de stand up na internet. Sinceramente, acho mais leve e produtivo. Porém, é fato que muitas obras fictícias dependem dos herois, que dependem dos seus antagonistas: os vilões.
É assim desde a bruxa que oferece a maçã envenenada para Branca de Neve, passando pelo senhor de engenho que açoita negros escravizados em sua fazenda e chegando até a Maria Bonita, que cortou a orelha de uma mulher que ousou dar em cima do seu homem, um tal de Lampião. Ah, então vamos assistir aos filmes religiosos? Lamento. A principal história religiosa retratada na ficção tem um homem apanhando um monte, sendo chicoteado por soldados romanos até ter seus membros inferiores pregados numa cruz. Acontece direto durante as encenações da Paixão de Cristo, e para a nossa vingança, ocorre um ritual chamado "malhação de Judas", em que somos estimulados a bater no boneco daquele apóstolo que traiu o protagonista.
Enfim, existe um negócio chamado "liberdade de criação", que é uma espécie de "licença poética" dada a quem cria. Vale para escritores, autores de novelas, peças teatrais, filmes e por aí vai. Também existe um troço acoplado à televisão chamado controle remoto, que por um acaso, desliga o aparelho, e na melhor das hipóteses, troca de emissora. Este é o melhor meio de evitar dissabores. O outro método, chama-se censura, e quanto a este eu sou totalmente contra, pois é uma violência do mundo real. Violência contra a liberdade de expressão e de criação, diga-se de passagem.
A violência que me causa repulsa não é a do mundo fictício, pois ela apenas retrata a nossa violência do mundo real, esta sim, ao meu ver, repugnante. E violência real é violência, independente da intensidade. Vai deste um tapa dado por um desequilibrado na cerimônia do Oscar até à Guerra da Ucrânia. Nestes casos, não há controle remoto que dê jeito, infelizmente...
* O Eldoradense