"A volta do Super-homem"
Quando eu era moleque e a dor física por alguma eventualidade
queria fazer com que as lágrimas rolassem rosto abaixo, aparecia algum
abençoado e dizia: “homem não chora”. Olha, era difícil segurar a cascata
salina enquanto a cabeça do dedão do pé estava esfolada por mais um acidente
ocasionado pelo “futebol de asfalto”. Mas a frase machista era marcante, e o nó
na garganta abortava o pranto enquanto a seiva rubra jorrava do meu dedão
estourado.
Mas aí, eu vi perdas. Perdas dos entes, e nelas, eu vi o meu maior exemplo de homem chorar sem qualquer ressalva, e não por coincidência, este mesmo homem nunca caiu na tentação de me dizer que homem não chora. E este homem, apesar de chorar, era uma fortaleza humana em termos de sabedoria e otimismo.
Homem chora sim, e chora porque é homem, e não uma estátua desprovida de sentimentos. Chora por amor, por dor, por angústia, de alegria, de tristeza. E em nenhum momento chorar tira a masculinidade, isso é tão idiota quanto dizer que o exame preventivo do câncer da próstata também o faz.
E por incrível
que pareça, às vezes, tenho a impressão que aquelas ideias ultrapassadas sobre
os conceitos de masculinidade voltaram à tona: Equivocadamente está na moda
vender a imagem do Super-Homem, do “inabalável, indestrutível, intransponível,
imbroxável”.
Valha-me Deus ter
que novamente engolir o choro de feridas muito mais dolorosas que um dedão
esfolado. Valha-me Deus ter que represar lágrimas tal qual uma Itaipu de
sentimentos.
Há dores cujas
lágrimas precisam extravasar, bem como alegrias que merecem ser brindadas com o
líquido salino. Todo homem tem a consciência das suas próprias dores, e não
convém camuflá-las em nome de tabus arraigados no machismo boçal. O equivocado comportamento somatiza inúmeros
males e patologias. É como tentar ser Itaipu e transformar-se em Brumadinho.
Tragédia emocional na certa!
* O Eldoradense
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