Não bastassem todos os imbróglios políticos, sociais, econômicos e sanitários pelos quais passa o país, o Brasil poderá viver, a partir do dia primeiro do próximo mês, mais um daqueles transtornos que só servem para piorar o que não anda bem das pernas: uma possível greve dos caminhoneiros.
Todos sabemos do quanto este país continental é dependente do modal logístico rodoviário, exatamente por ter desprezado outras variantes de transportes de grande potencial e custos infinitamente menores, como o hidroviário e o ferroviário. Sim, somos reféns das boleias, pneus e tanques de diesel. E há pouco menos de três anos, enfrentamos na pele uma greve duradoura e de grande impacto na economia nacional, reduzindo significativamente o PIB daquele ano, sob o mandato do então presidente Michel Temer.
A grande pergunta é: Haverá mesmo greve? O cartaz acima é da CNTTL - Confederação Nacional dos Trabalhadores de Transportes em Logística, um dos sindicatos da categoria, mais ligado à esquerda. Porém, é fato a categoria possui inúmeros sindicatos, e a própria classe dos caminhoneiros é em grande parte, simpatizante do atual governo.
Eis então, que a priori, se houver greve, a mesma será de menor adesão que em 2018, pois, apesar dos contextos econômicos serem muito parecidos com os daquele ano, os contextos políticos são bem diferentes. Há três anos os donos das grandes transportadoras viram, naquela oportunidade, uma forma de protesto político para alavancar o então probabilíssimo candidato Jair Bolsonaro. As pautas foram muito além das inerentes à categoria: ao invés de ficarem restritos ao preço do frete, dos combustíveis e afins, pediu-se "Intervenção Militar e Fechamento do Congresso".
Desta vez, a insatisfação quanto ao frete e aos combustíveis ainda procede, mas quem está sofrendo muito com isso são apenas os autônomos e celetistas. As grandes transportadoras, os tubarões do transporte rodoviário, através da CNT (Confederação Nacional do Transporte), já adiantaram que não apoiam nenhum movimento neste sentido, e vai além: promete garantir o abastecimento em caso de adesão parcial.
Há de se considerar também que estamos enfrentando um cenário de pouca atividade econômica motivado pela pandemia. Tem muita gente querendo trabalhar a qualquer custo, e se dar ao luxo de fazer uma greve pode se tornar suicídio financeiro.
Então, é bem provável que das duas uma: Ou a greve acontece de forma parcial, com baixa adesão, ou quiçá, ela nem aconteça. E talvez seja melhor assim, pois este seria um baque considerável para uma economia que está agonizando, esperando qualquer sinal mínimo de recuperação.
* O Eldoradense