15 de mar. de 2020

Livro: "O Coruja", de Aluísio Azevedo




    Brasil Império, Rio de Janeiro: É neste cenário em que Aluísio Azevedo discorre a narrativa de um dos seus mais conhecidos romances. Trata-se de "O Coruja", livro em que a história gira em torno de uma amizade inusitada, que começa na infância e perdura até à vida adulta, mesmo que com alguns distanciamentos e abusos de uma das partes.

       André, "O Coruja", é um menino feio, tímido e antissocial, porém, de muito bom coração, sempre disposto a ajudar ao próximo, principalmente seu amigo Teobaldo. Este, por sua vez, é um jovem bem apessoado, sedutor, nascido em berço de ouro, mas avesso ao trabalho e fadado à decadência financeira, porém, apegado às aparências. E neste contexto, por várias vezes, o ajuizado e abnegado Coruja socorre o amigo oportunista, que além de não retribuí-lo, muitas vezes o ignora, conforme as conveniências.

       E segue esta amizade quase parasitária até à vida adulta, onde o mais simplório sofre o desprezo alheio por ser feio, malvestido e pobre, enquanto o outro, que vive de aparências, vai galgando os mais elevados degraus na sociedade, inclusive no meio político. 

        Penso que o autor, nesta obra, tenha feito uma crítica muito bem elaborada às inversões de valores morais, onde a bondade e a simplicidade parecem pouco importar à sociedade, mais presa às aparências e ao status. E é neste pé que o fim da história torna-se melancólico, digno do leitor sentir piedade não só do amigo solícito,  como também do amigo aproveitador...

* O Eldoradense

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