30 de ago. de 2023

Comentário: Grandes fortunas - Taxar ou não taxar? Eis a questão...

 



 Ontem, Lula assinou a MP que prevê a taxação de grandes fortunas. Lembremos que a pauta é prevista na Constituição Federal, e, segundo pesquisa, conta com o apoio de aproximadamente 62% a 85% da população, levando-se em conta fontes diferentes de pesquisa. A priori, uma solução sensata, pois nada mais justo do que o argumento de "quem possui mais recursos dê contribuição maior para diminuir as desigualdades do país. E quando o assunto é desigualdade, é público e notório que somos um dos países mais injustos do ponto de vista social.

    Porém, entre os técnicos (leia-se principalmente economistas), a medida promove debates interessantes, praticamente dividindo opiniões. O principal argumento dos que são contrários à medida alega que o país poderá perder divisas dos "super ricos" brasileiros, que poderão migrar seus recursos para outras nações.  Não é um argumento a ser desconsiderado, diga-se de passagem. Os que sustentam a medida dizem que mesmo com a adoção da conduta, o Brasil pratica uma das taxas de juros mais altas do mundo, e ainda assim, é interessante para que esta minúscula (porém detentora de grande parte do nosso PIB ) parcela da população mantenha aqui sua grana, pois o retorno ainda é interessante.

     Mitigar as imensas desigualdades sociais do país é dever do Estado brasileiro. O fenômeno por aqui chega ser imoral, de tão explícito que é. Porém, eu sempre fico reticente com soluções rápidas. Em exemplo  didático, lembro-me quando o presidente José Sarney, em 1986, salvo engano, no afã de conter o monstro inflacionário resolveu tabelar os preços das mercadorias básicas para o consumo. No primeiro momento a medida contou com o apoio popular, que foi logo foi revertido quando os produtos começaram a faltar nas prateleiras e a concorrência de preços entre mercadorias similares tornou-se inexistente, pois todo mundo resolveu praticar o preço máximo da tabela. Ou seja: Houve boicote do empresariado, porém, é fato que o governo também errou quando quis intervir de maneira exagerada na economia de livre mercado.

      Enfim, como eu disse nos primeiros parágrafos, a ideia de taxar grandes fortunas a priori, é sensata e justa. Porém, há de se levar em consideração as suas variáveis consequências e subterfúgios. Teremos mecanismos para coibir uma possível evasão de divisas? O Estado Brasileiro possui direito Constitucional de impedir que que investidores brasileiros transfiram seus recursos?

      Pois é levando em consideração as variáveis e subterfúgios que tenho ressalvas quanto à eficácia da medida. Sinceramente, creio que o Estado poderia ser bem mais exitoso no combate às desigualdades se diminuísse os gastos públicos com as altas castas da classe política, das suas mordomias e regalias, (e também coibindo efetivamente a corrupção); otimizando as contas públicas e aumentando sua capacidade de investimento. Investimentos estes que poderiam ser voltados para a infraestrutura precária: segurança, habitação, transporte público, saúde e educação dos menos favorecidos. Isso sem falar nas possibilidades de oferta de microcrédito aos pequenos empreendedores, produtores rurais e também para  o financiamento estudantil universitário. 

     Finalizo o texto com um exemplo prático: Na Europa dos anos 90, doze países adotavam a referida conduta. Em 2017, apenas quatro. Se a medida fosse, de fato, exitosa, a prática não seria abolida por oito países do bloco, penso eu.


* O Eldoradense

21 de ago. de 2023

18 de ago. de 2023

Poesias do Eldoradense: "Convite pra festa da Selma!"


 


Se você usa amarelo,

Ou também verde oliva;

Então, eu apelo...

Mantenha a chama viva!

 

Considere-se convocado,

Para uma festa exótica,

Deus está do nosso lado,

Da massa patriótica!

 

Para que energético,

Se já estamos na pilha?

Num ritual estratégico,

Invadiremos Brasília!

 

Debaixo do sol à pino,

Contagiaremos corações;

Cantaremos o hino,

Faremos orações!

 

Cagaremos no STF,

Detonaremos bomba!

Supremo mequetrefe,

Que festa de arromba!

 

Seremos condecorados,

Pelo nosso capitão;

Retornaremos emocionados,

Orgulhosos de montão!

 

O arrogante Xandão

Quer montar armadilha?

Derrotaremos o mandão...

Deus, pátria e família!

 

* O Eldoradense 


12 de ago. de 2023

"Um conto fonético e ortográfico"

 




  

   Certo dia, a Língua Portuguesa estava em sua sala, curtindo o  ar condicionado, entediada. Queria criar algo, pois notou que mesmo com todas as suas armadilhas fonéticas e ortográficas, precisava inventar uma novidade. Foi quando requisitou a presença da letra “X” aos seus aposentos.

         Em poucos minutos, lá estava a referida letra diante do patrão, que tinha o porte de um xerife. O mesmo tomava uma xícara de café, e foi logo dizendo:

X, você sabe que de todas as letras, te acho a mais polivalente, a mais versátil, a mais solícita. Além de representar honrosamente tuas funções, te vejo protagonizar equações matemáticas. Enfim, você sabe que é meu peixe! E por isso, te delegarei novas missões! Tu sabes que muitas palavras tem o som do “s”, do “z” e do “cs”. Porém, estas letras vivem por aí, se divertindo, sem comprometimento. Não canso de vê-las dançando na hora da labuta. Ritmos diferentes, como axé, xote, xaxado. Quero que você as substitua, sempre que convocada! De hoje em diante, sua missão será provar que quem se ausenta, acaba se tornando desnecessário...

   Não é preciso explicar que o X sentiu o peito explodindo com seu ego inflado. Aceitou de pronto executar tais tarefas, ainda que corresse o risco de ficar extenuado. Mas a Língua Portuguesa, astuta que era, lhe prometeu recompensar pelas árduas horas extras. Caramba, já no último parágrafo deste texto estava cumprindo sua missão! Era mesmo um exímio substituto!

     O tempo foi passando e lá estava o x metendo o bedelho em sons que não precisavam da sua presença, confundindo leitores e escritores, se encaixando onde não fazia qualquer sentido. Extrapolava nas substituições, trabalhava de forma exponencial, como um exagerado cumpridor de horas extras. Agia como se fosse um soldado do exército: Missão dada, missão cumprida!

 Um dia, exausto, perdeu fôlego. Fez exames médicos. Ironicamente, o primeiro deles foi um raio X do tórax, pois estava ficando sem ar. O médico logo diagnosticou uma crise de estresse, acompanhada por ansiedade. Precisava descansar, pediu atestados médicos. Perplexo, percebeu que exagerou na dose.

     À sua mesa, a Língua Portuguesa viu o atestado com desconfiança. Resolveu telefonar para o “c” e o “h”.

     Acabei de chamá-los porque o X está com doença de rico, frescura. Não está dando conta mais nem de representar ortograficamente os próprios fonemas. É por isso que juntos, vocês irão substituí-lo em algumas ocasiões.  De hoje em diante, não quero ser chamado de patrão, mas sim, de chefe! Chefe com ch, para inaugurar esta nova e honrosa fase em suas vidas. Sintam-se privilegiadas com esta pequena promoção! Recebam este cheque nominal como recompensa. Ah! aceitam um chá?

    O idioma explorador cobrou o preço da letra que trabalhou em excesso. O x, complexado, sentiu-se traído, como quem tivesse tomado um chapéu. Enquanto isso, outras letras o xingavam pelas suas costas, sem qualquer compaixão: “Toma, puxa saco!”

  

 

    O Eldoradense

9 de ago. de 2023

Comentário: "Indígenas - Os verdadeiros pioneiros de nossa terra"

 

Brasão oficial do município de Presidente Venceslau




  O último censo do IBGE revelou que a população declaradamente indígena de Presidente Venceslau é restrita ao pequeno número de doze indivíduos, também conhecido como uma dúzia. Num universo aproximado de 35000 habitantes, e fazendo uma conta básica, este  contingente carateriza um percentual pífio de 0,034% da população total. Os números revelam o quão dizimada foi esta etnia durante o processo de expansão colonizadora rumo ao interior do Brasil, onde está inserido, logicamente, o oeste paulista. Este texto tem sua razão de ser escrito hoje: 09 de agosto - Dia Internacional dos povos indígenas.

      É sabido que o nome original de Presidente Venceslau é "Coroados", em alusão à nomenclatura que os portugueses deram aos indígenas de diferentes grupos que usavam sobre suas cabeças artefatos que lembravam as coroas dos reis, um dos símbolos das monarquias. Rapidamente o nome do povoado foi mudado para "Perobal", e, em posteriormente, para o nome atual do município, homenageando o presidente Wenceslau Brás.

      Notem que a dizimação física ao longo dos anos também é notada na dizimação cultural, referente às alusões, homenagens e lembranças: Assim como o nome "Coroados" é hoje apenas uma vaga referência da nossa história, as transformações econômicas também interferiram neste processo. Explico: A falência do frigorífico "Kaiowa" e também da destilaria "DECASA" - ambas empresas homenageavam os índios caiuás - tornam ainda mais remotas as nossas referências indígenas. Regionalmente falando, a empresa de engergia elétrica "Caiuá", passou a fazer parte de um grupo chamado ENERGISA.

       Retornando ao contexto local, em relação às alusões e homenagens, restaram-nos os dois indígenas no brasão oficial do município, um clube social e poliesportivo com o nome "Coroados", além de uma gráfica e um bairro, homônimos do clube. Penso eu ser muito pouco, e desculpem-me se eu estiver exagerando, um desprezo às nossas verdadeiras origens.

      Por uma questão de justiça, penso que os legítimos pioneiros desta terra mereciam ao menos uma praça, um monumento, bem como a disseminação maior das informações sobre a cultura dos Caiuás - ou Coroados - para que os cidadãos de hoje compreendam de forma mais verossímil a nossa história. A iniciativa envolve muito mais do que construções físicas: Envolve resgate cultural!

* O Eldoradense



2 de ago. de 2023

Conto: "Ver para crer"

 



 Quem conheceu Thomé sabe o quanto ele era contestador, do quanto necessitava das provas materiais para acreditar em algo. Ah, desculpem-me! Não me refiro ao apóstolo de Jesus, aquele que precisava "ver para crer". Porém, nunca vi uma homenagem nominal cair tão bem em um sujeito: O Thomé que vos digo é um indivíduo de meia estatura, meia idade, meio desconfiado. Cabelos compridos, grisalhos, barba na mesma cor, olhar distante, misterioso, riso difícil. Vestia roupas simples e gostava de viajar num Jeep vermelho, onde carregava de tudo: Principalmente suprimentos e ervas exóticas. Tá ok: Ervas alucinógenas!

 Gostava de contemplar a natureza e todas as histórias que ouvia a respeito dela, e se pudesse, decifrava todas. Alguém tão pragmático e cético deveria mesmo se graduar em algo científico: E assim o fez. Formou-se em Geologia numa universidade pública paulista e aprofundou-se na espeleologia. As cavernas eram sua paixão, as entranhas da Terra pareciam hipnotizá-lo. Quando fumava as tais ervas exóticas e dirigia o velho Jeep, ficava mais louco que o Batman! Era como se fosse o próprio Homem-Morcego num Batmóvel off road atrás de mais uma Batcaverna.

   No fim do ano letivo da universidade em que lecionava, resolveu que gozaria suas férias numa aventura solitária. Deixaria Rio Claro, no interior de São Paulo e iria no velho Jeep até São Thomé das letras, pequena cidade mística mineira. Ouviu dizer que lá havia uma certa "Gruta do Carimbado", onde muitos alegam haver um portal para Machu Picchu, a cidade perdida dos incas, localizada no Peru.

    Qualquer cidadão lúcido deduziria que esta é uma lenda folclórica, que talvez tivesse como objetivo alavancar o turismo da pequena cidade mineira baseando-se no misticismo. Mais ou menos algo parecido com Varginha e seu famoso extraterrestre. 


   Mas Thomé, não. Tal qual o apóstolo do Messias, ele precisava ver para crer. Na sua concepção, aquela história não poderia ter saído do nada. Devia haver algum sentido naquilo tudo.

         Hospedou-se numa pequena pousada. No dia seguinte, foi com o Jeep até o ponto mais próximo da Gruta do Carimbado. Pegou tudo o que julgava necessário: Capacete com lâmpadas, mochila enorme, macacão, calçado adequado, cinto,  água, cantis, alimento e bastante erva alucinógena. A propósito, quando alcançasse o portal energético, a viagem adiantaria bastante, como numa espécie de teletransporte. 

        A gruta do Carimbado teve sua entrada proibida pelas autoridades locais, por conta da degradação ambiental causada por visitantes e curiosos. Mas Thomé era um predestinado. Começou sua jornada em busca da civilização perdida. Seria uma descoberta que o tornaria um ícone da geologia internacional.

        Os dez primeiros dias foram ganhando dificuldade gradual: Caminhos estreitos, rios subterrâneos, escuridão, frio, umidade. Dificuldade para se alimentar, a comida rareando, a solidão, o corpo estenuando as forças. No décimo terceiro dia, um clarão apresentou-se diante dos seus olhos! Luz branca, ofuscante, e em pouco tempo, ouviu-se o som melancólico de uma flauta pan. À sua frente, os altiplanos peruanos apresentaram-se com seu ar rarefeito, inúmeras lhamas e muitos descendentes incas. Felicitou-se de forma alucinógena, sobrenatural. Jurava que poderia morrer naquele exato momento.

      Em Rio Claro e em São Thomé das Letras as buscas pelo professor do curso de geologia foram iniciadas há pelo menos cinco anos, e sem sucesso efetivo, duraram apenas um ano. Nenhum familiar foi contatado por ele. Dos vestígios do homem, apenas o velho Jeep vermelho foi devolvido pelo dono da pousada à sua única irmã. Há quem diga que ele está no Peru, vagando pelas ruas de Machu Picchu. Outros dizem que morreu num ponto inacessível que sua louca e longa jornada lhe impôs. Vai saber...


* O Eldoradense

      


   

Comentário: "O tio França foi uma vítima"

    Ontem à noite, em Brasília, aconteceu o que penso ser o ápice do delírio Bolsonarista: Um homem trouxe explosivos em seu próprio corpo, ...