27 de mar. de 2023

Comentário: "Responder pelo que se diz"

 



"Tanto faz se é Pelé, ou se é Diego,

Tanto faz se é patrão, ou se é pelego;

Você vai ter que responder pelo que faz,

Você vai ter que responder pelo que diz"


 Acima, o trecho da música "Funk da lama", do genial Zeca Baleiro. A música fala sobre as consequências que cada um assume sobre aquilo que diz. Em tempos de internet e redes sociais, toda expressão individual de opinião repercute em segundos, atingindo proporções tão rápidas quanto abrangentes, geograficamente falando. O comentário postado em uma rede social de um venceslauense é visto por um outro venceslauense trabalhando em um frigorífico da Austrália pouco tempo depois, por exemplo. E dependendo do que foi dito ou escrito, os aplausos são efusivos, porém, as vaias e os repúdios não são menos retumbantes.

    Semana passada, um dos nossos legisladores venceslauenses disse, na tribuna da Câmara Municipal, que a pobreza em que se encontra a região do Pontal do Paranapanema tem como principal causa o número de assentados, que pouco produzem, e muitas vezes "trocam suas terras por galinhas". A repercussão negativa foi imediata e favorável aos assentados: Mesmo em uma comunidade conservadora como a nossa, a maior parte dos munícipes considerou a fala desproporcional, descabida, equivocada. 

     Assentados prometeram lotar parte das cadeiras na sessão de hoje, enquanto gente ligada ao agronegócio, também. Os ânimos ficaram exaltados, e tudo por conta de uma fala desconectada da realidade, tendo em vista que 70% dos produtos alimentícios que chegam nas mesas dos brasileiros são oriundos da agricultura familiar. Gente que mora em pequenas propriedades rurais, que levanta de manhãzinha, pega cedo no batente, que produz para a própria subisistência e também comercializa o excedente nas feiras livres, bem como fornece o fruto do seu trabalho para as escolas públicas, por exemplo. Boa parte desta produção produzida em assentamentos. (Dados do IBGE)

     Não serei inquisidor, não apontarei o dedo para o sujeito, mas sim, à sua fala equivocada, que merece o argumento que condiz com a realidade dos fatos. Creio que tenha reproduzido tal fala por desconhecimento de causa, preconceito ou paixão ideológica. Não vem ao caso. O que importa é que se nossa comunidade regional almeja prosperidade, é fato que nossos homens públicos precisam construir pontes, não muros. Os ânimos acirrados por falas descabidas não agregam, não acrescentam, não contribuem. Ao contrário, torna tudo mais difícil.

      Os assentamentos rurais estão não só em Presidente Venceslau, mas também como em vários dos nossos municípios vizinhos: Caiuá, Piquerobi, Marabá Paulista, Presidente Epitácio. Cada um de nós conhece ou tem um parente assentado, e sabemos o quão complexas são suas jornadas. Basear uma opinião em casos de irregularidades pontuais é uma generalização tosca, caricata, disforme, equivocada. Afinal, se existem tantos assentamentos, é porque a história de ocupação fundiária do Pontal do Paranapanema não aconteceu de forma tão legal e regular assim. A justiça nem o Estado desapropriaram terras particulares como num molde socialista e distribuiu lotes ao seu bel prazer. O fenômeno deu-se em áreas de domínio público, nas chamadas "terras devolutas". 

      Quem saber mais sobre o assunto, pesquise na internet e veja que o debate e a bibliografia sobre o tema são tão extensos quanto nossos latifúndios. Quanto ao vereador, o mínimo que se espera é a retratação, a retificação. Não só pelo cargo que ocupa, mas principalmente, pelo homem e cidadão que é. Recuar, reconsiderar, em muitos casos, não é fraqueza: é sinal de ponderação e bom senso!


* O Eldoradense

5 de mar. de 2023

Clipe: "Telegrama", com Zeca Baleiro...

    Músicas marcam, e pra mim, esta é uma delas...

   "Telegrama", com Zeca Baleiro


* O Eldoradense


4 de mar. de 2023

Comentário: "Afasta de nós este cálice!"

 




   Causou repercussão, indignação e polêmicas a notícia de que três empresas produtoras de vinhos e derivados da uva produzem seus produtos à base de mão de obra análoga à escravidão. Surpresa? Nem tanto. Brasil afora pipocam notícias de carvoarias, destilarias de álcool, fábricas de costura clandestinas e tantos outros setores produtivos que exploram seus trabalhadores além do limite tolerável da mais valia, aproximando-os das antigas senzalas, dos cativeiros e da indignidade.

     Salton, Garibaldi e Aurora são as marcas expostas à vergonha. Todas as três empresas repassam a culpa às suas terceirizadas, que por sua vez, negam a prática, bem como a indenização pedida pelo Ministério Público do Trabalho aos trabalhadores. É bom deixar claro que empresas que terceirizam seus trabalhos têm como obrigação mínima fiscalizar como e em quais cirucunstâncias os mesmos estão sendo realizados.

        Para piorar, um vereador totalmente sem noção - para não dizer outros "adjetivos" - de Caxias do Sul praticamente transformou as vítimas em vilões, dizendo que os trabalhadores de origem baiana envolvidos no caso não merecem tais "oportunidades" e que as mesmas deveriam ser dadas à mão de obra argentina, pois os vizinhos portenhos são mais "limpos e disciplinados". Xenófobo, extremista e ridículo, tal qual a mentalidade que tem imperado em nosso país ao longo de séculos e que ganhou simpatia aflorada e representatividade política no último quadriênio.

     Uma das vinícolas produziam a maior parte da bebida servida nas eucaristias da igreja católica. Sim, neste caso, o simbólico "Sangue de Jesus" bebido por nossos sacerdores continha muito sangue de escravidão contemporânea. A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil já se posicionou e cancelou a aquisição do produto. É o mínimo, diga-se de passagem.

     Particularmente, ao comprar suco de uva - pois muito raramente bebo vinho - procurarei afastar-me do cálice das três marcas envolvidas nesta questão. Quando ao vereador de Caxias do Sul, bem como aos simpatizantes do discurso do ódio e xenófobo... CALEM-SE!

* O Eldoradense 

     

Comentário: "A importância do equilíbrio fiscal"

       Contas públicas: Este é, sem dúvidas, o calcanhar de Aquiles do atual governo. Operando de forma deficitária e não demonstrando uma i...