10 de jan. de 2023

Crônica: "Bom dia. Eu sou o cavalo..."




     Bom dia, eu sou o cavalo. Sei que vocês dizem que apenas os falastrões dão bom dia aos cavalos, mas a saudação partiu de mim, então, responder é uma questão de educação. Se eu parecer confuso, me perdoem: Barras de ferro atingiram minha crina e meu crânio no último domingo, numa manifestação que clamava por "Deus, pátria e família..."

      Meu amigo policial me retirou da baia e fomos à praça dos três poderes fazer um trabalho de vigilância. Havia muita gente de amarelo, pareciam estar furiosos. Sim, amarelo é uma das poucas cores que enxergo, e isso eu vi muito bem. A coisa foi ficando feia, os humanos de roupa amarela estouraram feito boiada cujo líder da comitiva havia perdido o controle. Partiram para cima de tudo e de todos, até que alguns "filhos de uma égua" agrediram a mim e ao meu amigo humano. Acho injusto este termo com os equinos e nossas mães, mas o convívio com os humanos me faz relinchar no idioma deles. Então, alguns termos são inevitáveis...

    Barra de ferro na cabeça, doeu pra caramba. Não entendia o que estava acontecendo, e com a pancada, fiquei mais confuso ainda. Mas eles destruíram tudo: Tal qual a vaca amarela, pularam e quebraram as janelas, fazendo muita merda. Não sei se as vacas amarelas de verdade chegam a tanto, mas perdoem-me: forças de expressão dos humanos...

     Depredaram, arrancaram cadeiras, e pasmem: Até um crucifixo foi arrancado violentamene da parede! E olha que eles se dizem Cristãos! 

       É estranho este pessoal me agredir. Justo eu, que faço parte da espécie que ajudou este país a ganhar independência de Portugal, carregando D. Pedro I no lombo às margens do Rio Ipiranga. Pode perguntar! Não perguntem no posto Ipiranga, mas ao Google ou aos livros de história. Agora, estes mesmos caras que vestem amarelo pedem o fim da liberdade sob a intervenção do pessoal de verde oliva. Juro que não entendo!

     Olha, ao que percebo, tal intervenção não vai rolar. Podem tirar-me da chuva se esperam isso! Na verdade, este pessoal arrumou sarna para se coçar. Se eles almejavam cavar a própria sepultura, começaram a "cavá-la"! 

      As prisões começaram e as investigações também. As autoridades querer que se dê nomes aos bois. Ou aos mandantes dos bois? Desculpem-me, estou confuso. Não sei quem são os bois nesta história. Mas também acho o termo injusto com os amigos bovinos. Assim como é injusto chamar meus primos quadrúpedes de burros. Os seres humanos, muitas vezes aparentam ser muito mais burros que os próprios burros! Enfim, força de expressão. O convívio me fez pensar em idioma humano, e algumas forças de expressão são inevitáveis...


* O Eldoradense

    

 

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