Foi passando de moto em frente à sua casa que me encantei pelo seu olhar lindo e pelo teu sorriso cativante. E continuei passando, por várias vezes, percebendo seus olhos e recebendo seu sorriso. Porém, a timidez que sempre me acompanhou fez com que eu lhe abordasse muito tempo depois. Neste período de troca de olhares, eu disse ao meu irmão: " Estou de olho numa polaca linda!" . E certa vez, passando de moto com ele na garupa, meu mano concordou quanto à sua beleza, acrescentando que você parecia ser muito legal.
Depois da primeira abordagem, alguns encontros, e movidos pelas afinidades, oficializamos o namoro. Cinco anos que serviram para mostrar que queríamos mais um do outro, e numa manhã de sábado no finalzinho de 2007, nos casamos. Você sabia o que queria, mas mesmo assim, no primeiro dia na casa que comprei para morarmos juntos, chorou de saudade da sua mãe. Me lembro disso como se fosse hoje.
Você sempre foi meiga, ansiosa, simpática e apaixonada pela sua profissão de manicure. Havia nascido pra isso, e com sua alegria, transformou suas clientes em amigas e confidentes. Como esposa foi amiga, companheira, cuidadosa. Tivemos nossas dificuldades, questionamentos, que creio eu, sejam inerentes aos matrimônios. Mas ficamos casados por mais onze anos, totalizando dezessete de convivência. Podemos dizer prosperamos, levando-se em conta as origens humildes de nossas famílias. Traçamos metas, fizemos viagens, obtivemos vitórias.
Porém, fomos derrotados por um mal neurológico que te acompanhou por todo o período em que estivemos juntos: a epilepsia. Foi ela quem nos intimidou quanto aos planos de termos filhos, e foi ela quem tanto me amedrontou quanto ao medo de perdê-la. Mas você não tinha medo, e até zombava da situação.
Levo comigo o exemplo da sua coragem e a dedicação plena com que exercia seu trabalho. Carregarei para sempre as nossas boas lembranças, as viagens, as risadas, e a facilidade que você tinha para cativar as pessoas. Fazia isso através do mesmo sorriso que me conquistou há dezessete anos. Nos amamos, nos protegemos e cuidamos um do outro ao longo deste período. É lógico que também discutimos, tivemos dúvidas e vivenciamos os espinhos de um casamento que foi interrompido foi pela vontade divina.
Havia prometido não escrever sobre isso, mas não seria justo. Sei que você não gostava de exposição, mas não seria correto omitir tantos anos que construíram uma história. E tais memórias, carregarei sempre comigo. Foi muito bom ter sido o seu "cearense", e você, minha "polaca". Era muito bom unir nossas famílias em casa durante as comemorações festivas do ano. Enfim, terei gratidão eterna por tudo o que fez por mim. A impressão que tenho é que perdi a minha melhor metade. Não vai ser fácil superar a dor e a saudade. Mas vou tentar fazê-lo, porque sei que você nunca iria querer ser motivo de minha tristeza. De onde estiver, leia esta carta, Juliana. Foi escrita especialmente pra você! Beijos, você estará pra sempre guardada em mim, tanto nas memórias, quanto no coração, pois o que houve entre nós, foi inesquecível.
Luiz Fernando, 06/03/2019