Semana passada o Rio de Janeiro mais uma vez protagonizou o noticiário nacional no que diz respeito à violência, quando uma megaoperação das Polícias fluminenses contra o tráfico de drogas ocorreu principalmente nos Complexos do Alemão e da Penha, tendo como saldo quatro 121 mortes, sendo 117 de soldados do crime, e 4 dos agentes públicos da lei.
Sempre digo que apesar da desigualdade social gritante deste país ser um dos elementos responsáveis pela criminalidade e violência, é fato que quem pega em armas para atirar contra a polícia assume os riscos em relação à própria sentença de morte. E obviamente, não é para ser diferente. Que, apesar de o Poder Público estar ausente nas favelas das grandes capitais brasileiras e só aparecer na hora de apresentar medidas paliativas de segurança, é fato que quem se torna soldado do poder paralelo tem dois destinos prováveis: A cana, ou a cova.
De resto, quanto ao apoio da população, as pesquisas mostram que a maioria das pessoas que vivenciam, de fato, o problema - os moradores das favelas - apoia megaoperações realizadas com o intuito do combate ao tráfico. Muito provavelmente porque a opressão e o medo proporcionados pelos traficantes no cotidiano sejam bem maiores que os riscos de serem atingidos pelo fogo cruzado entre policiais e criminosos.
Até aí, ok, se não houvesse um porém: E depois? O Poder Público, após sua ação, vai se impor efetivamente nestes lugares , agir de forma mais eficiente e se firmar neste território hostil que precisa, de fato, da presença dele? Ou vai continuar agindo de forma pontual, tratando os sintomas e não as causas do problema?
Vejam bem: O questionamento não é quanto à operação em si, mas sim, ao fato de ela ser uma ação isolada que precisa de complementos bem mais amplos para surtirem efeito duradouro, e não momentâneo. É pelo fato do Poder Público - nas diferentes vertentes - precisar extirpar, efetivamente, a opressão do Poder paralelo nas favelas. Exemplo? Aqui em São Paulo, o chamado "Massacre do Carandiru" resolveu a problemática da facção criminosa que age dentro e fora dos presídios? E quando falo "fora" não é só nas ruas, falo também das suas ramificações na Faria Lima, coração do mercado financeiro do Brasil.
É preciso que se trate o problema de forma integral, e não apenas com suas facetas ideológicas visando ganhos futuros e imediatos, politicamente falando. E isso vale para ambos os lados: Tanto para os que condenam totalmente a operação e que não veem o lado de uma população oprimida cotidianamente pelo tráfico, como também para aqueles que acham que a operação, por si só, resolve o problema: Sem educação, saúde e segurança presentes, de fato, nestas comunidades, continuaremos a produzir cenas lamentáveis de carnificina, infelizmente.
Quem atira contra a polícia, repito, independente de quem seja, assume os riscos da própria sentença de morte. Vale para o soldado do tráfico que o faz no morro, mas valeria também para o político corrupto que o fez em sua mansão, às vésperas das eleições presidenciais, também morador do Estado do Rio de Janeiro.
O bandido rico que atirou contra a polícia já cumpre prisão domiciliar, ao contrário do bandido do morro que teve sua pena de morte decretada. Para o criminoso político rico e influente, a cana no aconchego do seu lar, é claro. Para o soldado favelado do tráfico, a cova. Crimes bem parecidos, mas com desfechos diferentes. E e aí onde está a diferença entre os que têm sede de justiça para os que defendem uma justiça seletiva, ou pior: Que têm perfil justiceiro.
Particularmente, lamento profundamente a morte dos policiais e a dor das suas respecivas famílias. Quanto aos soldados do tráfico, vejo que procuraram a própria sentença de morte, e se não há motivo algum para lamentações, também não vejo motivo de orgulho e comemorações exercidas por boa parte da sociedade. A segurança pública no Brasil está sendo negligenciada de longa data, e o que vejo é muita pirotecnia tanto dos que se dizem arautos dos direitos humanos, quanto dos justiceiros de plantão. É preciso mais ações técnicas e multifatoriais para resolução efetiva do problema, e o que estamos vendo hoje são apenas paliativos para angariar dividendos políticos a curto prazo.
* O Eldoradense