24 de out. de 2025

Comentário: "A gente não quer só comida e bebida..."


"Bebida, é água,
Comida, é pasto.
Você tem sede de quê? (de quê?)
Você tem fome de quê? (de quê?)







  Acima, o trecho de um dos maiores clássicos do rock nacional, que explodia talentos e músicas de protestos dos anos 80. "Comida" foi gravada em 1987, pouco depois da formalização da abertura política do Brasil e dois anos antes da primeira eleição presidencial após a redemocratização. De lá para cá, passaram-se quase quarenta anos - trinta e oito, para ser mais exato - mas, infelizmente, a música ainda é atual, como se fosse atemporal em um país em que tantos almejam o básico e tratam outros itens  que também são primordiais para o desenvolvimento humano como supérfluo, como "frescura". 

      É como se governos em mais diferentes esferas do poder público tivessem que oferecer aos seus cidadãos apenas o mínimo: O acesso à comida, à água potável e à saúde pública. Como moramos em um país onde muitos não têm acesso à tríade de "benesses" citadas acima, os governantes que os fornecem passam a ter a sensação do dever cumprido, e se as pessoas passam a almejar outras demandas - o que é natural em uma sociedade em evolução - isso soa como desnecessário, irrelevante.

       E a culpa do fenômeno da limitação conformada dos anseios não está restrita a quem governa: Muitos dos cidadãos têm a percepção equivocada de que o que extrapola um pouco o essencial não é necessário, é extravagância. De que o que vai além do pão e da água, é circo. Será mesmo que devemos nos contentar apenas em comer, beber, dormir e trabalhar, como se fôssemos dentes de uma engrenagem faminta por funcionamento incessante em nome da produtividade? 
 
      Não podemos almejar o lazer, o que possa ser belo e esteticamente agradável, às artes, à prática esportiva, os livros, a conhecer outros lugares, a "ter saída para qualquer parte?". A gente não quer só comida, pois a nossa fome vai além das proteínas e carboidratos. A gente não quer só bebida, pois a nossa sede vai muito além de mera água potável. A gente quer ser gente, na mais pura e íntegra essência das nossas existências! 

      É preciso pensar fora da caixinha desgastada, incolor, retrógrada e feia. É preciso querer mais que pão e água potável. É preciso querer também um circo com lonas coloridas, pois viver é uma necessidade bem mais complexa que a restrita e limitada sobrevivência...


* O Eldoradense



           

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