28 de mar. de 2025

Crônica: "A corneta"

   



Ontem, de manhã, a primeira coisa que visualizei na internet foi uma vídeo enviado por um amigo através do aplicativo de mensagens do Facebook: Nele, o Messias cedia uma entrevista à vários repórteres, e, durante sua fala, eis que um trompetista começa a soprar a "marcha fúnebre". 

    Justiça seja feita, O Messias pareceu lidar muito bem com o fato. Deu um sorriso -amarelo, é bem verdade- mas mostrou-se emocionalmente estável mediante ao som que mesclava o funesto com o sarcástico. 

    É fato que trompete não é corneta. Certa vez, eu disse que adorava o músico Ray Connif. Um amigo - de longa data, até os dias atuais - "cornetou" meu gosto músical dizendo a seguinte pérola: "Ah, aquele corneteiro!?" Ri muito da sua cornetada! Porém, como são instrumentos que possuem alguma semelhança, incluo-os no mesmo pacote de metáforas para fazer a analogia à crítica, ao sarcasmo, à zombaria. E se tem uma coisa que boa parte dos escritores -amadores ou profissionais - faz, é exercer o ato de cornetar: Seja de forma sutil, explícita, ou até mesmo, ofensiva.

       Corneto, logo sou cornetado. É causa e consequência. Nas minhas páginas e redes sociais, exerço meu direito à cornetada e tolero as réplicas em tom também corneteiro. Na maioria das vezes, ignoro, e, em alguns poucos casos, respondo, porém, sem espaço para ofensa. Em uma única vez, bloqueei alguém que se excedeu escrevendo palavra de baixo calão em ofensa mais que explícita. Não me arrependo, diga-se de passagem. Aliás, o que tem de cristão conservador adotando vocabulário de fazer inveja à Dercy Gonçalves, não está no gibi. A impressão é que o cara lê uma página da Bíblia, outra do Bocage. 

        Há aqueles, talvez seres superiores, que faziam da corneta um grande motivacional, melhorando a performance. Muitos dizem que assim era Pelé, quando a torcida adversária resolvia cornetá-lo das arquibancadas. Eu não chego a tanto, mas ignorar as cornetadas e saber lidar com elas, já é um estágio mais avançado que a desestabilização emocional e o revide irracional, deselegante.

        Cornetemos-nos! Zombemos, sejamos sarcásticos, façamos críticas, sejamos criticados. Que a corneta da democracia prevaleça ante à corneta dos regimes de exceção atrelados aos quartéis. Ah, pra finalizar, reitero o apreço pela reação do Messias diante da provocação sonora do trompetista. Este foi um dos pouquíssimos elogios que eu fiz ao ex-presidente. O resto foi cornetada...

* O Eldoradense

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