“A pirâmide da prosperidade”
O
viajante andava sem rumo sob o sol quente do deserto, totalmente perdido. Com
muita fome e sede, sucumbiu na areia branca, onde desmaiou impotente e frágil.
Em seu desfalecimento, teve uma alucinação de esperança, quando ouviu uma voz
dizendo: “Encontre
um norte para sua vida, e lá, estará a pirâmide da prosperidade”. O
devaneio serviu como combustível para seu corpo cansado e alento para sua alma
desiludida. Como não tinha bússola, orientou-se pelo sol e automaticamente
encontrou a direção norte, conforme o conselho que ouvira no sonho. Andou
quilômetros e mais quilômetros, movido não por alimento ou água, mas sim, por
esperança e uma boa dose de ambição.
Depois de vinte e quatro horas caminhando em
ritmo forte, proporcional à sua convicção fanática e cega, avistou uma pirâmide
de cor dourada. Seria uma miragem? Não. Os passos aproximavam-se daquilo que
havia sonhado de forma premonitória.
Do lado da pirâmide, havia um oásis com água,
árvores frondosas e por incrível que pareça, um belo camelo. Ali parecia ser o
mausoléu do faraó desconhecido, um tal de Telénkfremon, que muitos acreditavam
não passar de uma lenda. Mas agora ele sabia que não era! De joelhos, diante da
pirâmide, teve mais uma alucinação, onde ouviu a voz misteriosa de Telénkfremon
dizendo: “Pegue as poucas
moedas de ouro contidas em sua algibeira e deixe-as na pirâmide.
Posteriormente, siga com o camelo até à cidade mais próxima, espalhando a boa
nova. Cobre pela informação. Os informados, também cobrarão por disseminar a
notícia, tal qual epidemia de prosperidade”.
E assim ele fez, novamente rumando para o
norte, onde encontrou uma grande cidade. Espalhou a notícia, multiplicou
camelos, ganhou prestígio, conquistou mulheres. Seu exemplo fez com que outras
pessoas tivessem novas alucinações cegas e fanáticas, sendo que todo mundo
passou e venerar o espírito de Telénkfremon, o faraó até então desconhecido.
Mas chegou a hora em que não havia mais para
quem espalhar a informação. O sonho da epidemia de prosperidade tornou-se
pesadelo para muitos que investiram suas economias nesta seita financeira,
cujos fieis pareciam endeusá-la. Uma multidão dirigiu-se até à pirâmide,
destruindo-a. Suas bases ruíram facilmente, tal qual castelo de cartas. Na
volta dos desiludidos para a cidade, muitos pareciam ouvir a risada sarcástica
de Telénkfremon. A ambição pelo dinheiro fácil é como a areia nos olhos trazida
pelos ventos do deserto: impede que muitos enxerguem poucos passos adiante.
* O Eldoradense
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