"A gota d'água"
Os últimos
dias expuseram agitação nas ruas das grandes cidades brasileiras. Em plena
“Copa das Confederações”, nossa população resolveu mostrar que não está mais tão
alienada e inerte quando pensam ainda muitos dos nossos políticos
desatualizados. O povo foi às ruas, cercou o Palácio dos Bandeirantes e subiu
na laje do Congresso Nacional. Os dois exemplos são emblemáticos, pois mostram
que a insatisfação é genuína, e não motivada somente por partidarismos, como
sugerem alguns.
O Datafolha demonstrou através de pesquisa
que nos protestos ocorridos segunda-feira, 84 % das pessoas não possuíam
predileção partidária, sendo que 71% participaram de uma manifestação pública
pela primeira vez. O fato é que os centavos acrescidos às tarifas do transporte
coletivo Brasil afora foram apenas a “gota d’água” para a motivação dos
protestos. Há muitas outras coisas incluídas nestes vinténs: insegurança, saúde
e educação precárias, e principalmente, corrupção.
Muito se falou contra o vandalismo, o que é
óbvio e politicamente correto. Sempre digo que erros não justificam outros, mas
provocam. Pois bem: a depredação praticada por uma minoria dos manifestantes é
consequência do vandalismo político com o dinheiro público. Afinal, é
vandalismo estatal fazer com que pacientes se amontoem nos corredores de
hospitais, bem como oferecer ensino público de péssima qualidade. É também
vandalismo estatal permitir que estradas pedagiadas continuem precárias,
fazendo com que os seus usuários paguem por tarifas altíssimas, na razão inversa
da qualidade de muitas das nossas rodovias. É vandalismo estatal o grande
número de pessoas que têm suas vidas ceifadas pela bandidagem, que anda matando
por motivos cada vez mais banais. Enfim, o povo está cheio de tanto vandalismo
estatal.
Como desgraça pouca é bobagem, aqui, na
longínqua Presidente Venceslau, alguém parecia estar alheio a tudo isso e
resolveu propor noventa dias de férias para a vereança. A notícia foi veiculada
na imprensa, alastrando-se de forma viral pelas redes sociais, fazendo com que
a juventude local lotasse as cadeiras da nossa Câmara Municipal, externando
contrariedade à proposta. Bela atitude, pois tal indecência acabou não sendo
nem colocada em pauta. É justo salientar que a referida imoralidade parece não
ter sido assimilada de forma unânime entre nossos edis, e que houve quem fosse
contra o projeto, mesmo na Câmara.
Para não estender-me no assunto, reforço: o
povo já não é mais tão facilmente ludibriado como em tempos atrás. E na última
segunda-feira, as ruas brasileiras, o Congresso Nacional, o Palácio dos
Bandeirantes e até a Câmara Municipal de Presidente Venceslau foram testemunhas
disso. Só os “políticos desatualizados” ainda não perceberam a nova realidade.
* O Eldoradense
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