24 de jul. de 2025

Comentário: "Estamos em um país comunista?"

   


       Em tempos de polarização política, não é raro o indivíduo ouvir que estamos em um país comunista, ou que, numa hipótese mais branda, estamos caminhando para tal. Ouve-se o termo à torto e à direito nas redes sociais, nas rodas de amigos, nos templos religiosos, nas mesas de lanchonetes, na rua, na chuva, na fazenda, ou até mesmo, numa casinha de sapé. 

     Tenho duas teorias: Algumas pessoas propagam a máxima sem conhecimento de causa, e outras, até conhecem vagamente o conceito, mas propagam propositalmente a mentira para que os desinformados temam fervorosamente um monstro desconhecido que nunca colocou e nem colocará os pés em solo brasileiro.

    Cientificamente falando, e de forma bem resumida em relação ao tema,  recorrendo ao filósofo e economista alemão Kal Marx, o comunismo é um estágio avançado do socialismo, onde os trabalhadores se apoderariam dos meios e modos de produção, igualando as classes sociais, ocorrendo a ausência da propriedade privada, e principalmente, do Estado. Lembremos que Marx elaborou esta corrente de modelo socioeconômico em um contexto pós Revolução Industrial, onde operários famintos vendiam sua força de trabalho em jornadas desumanas que chegavam a dezesseis horas de trabalho em ambientes insalubres, incluindo, nesta jornada marcada por altíssima exploração, mulheres e crianças. Não é preciso dizer que na atual conjuntura, o comunismo é Utópico, inviável e ineficaz.

     O tempo, de fato, provou que o comunismo não funcionou, e talvez os principais marcos de sua ineficácia e derrocada sejam a extinção da União Soviética e a queda do muro de Berlim, na Alemanha do próprio Marx.

       Historicamente falando, nunca chegamos nem perto do comunismo: Desde que este país foi colonizado e dividido em capitanias hereditárias até as ameaças tarifárias de Trump, fomos - e somos - um país capitalista selvagem, desigual, disforme, da periferia do capitalismo mundial, mas sob o ponto de vista técnico das ciências humanas e socioeconômicas, capitalista.

        Importamos, exportamos, a propriedade privada sempre existiu, elegemos nossos políticos através do voto direto e temos um Estado constituído. Se alguém alegar que "somos comunistas" devido à alta carga tributária, está errado, porque este não é o parâmetro para a denominação. Há países capitalistas de primeiro mundo com altíssimas cargas tributárias que proporcionam qualidade de vida invejável aos seus cidadãos: A Suécia e os países nórdicos da Europa, são exemplos. Infelizmente, é bem verdade não é o nosso caso: Pagamos impostos altíssimos e temos parcos retornos, mas aí, é outra história.

      Se alegarem que somos comunistas porque políticos de esquerda venceram boa parte das últimas eleições no país, está aí um outro equívoco: O conceito "esquerda" nasceu na França - um país marcado pelo perfil capitalista - pós Revolução, mais precisamente, no legislativo daquela nação , oriundo do grupo chamado de "Jacobinos". Além disso, se somarmos na nossa história todos os presidentes do Brasil, desde a República Velha, passando pelo Estado Novo, ditadura militar e tempos atuais, veremos que a maioria absoluta é composta por políticos de direita, similares aos "Girondinos" da França pós queda da Bastilha.

     É fato que hoje, nem a China, regida pelo Partido Comunista, do ponto de vista econômico, é comunista. O capitalismo chinês é tão selvagem quanto o nosso, porém, pautado na exportação de tecnologia e importação de commodities, num perfil comercial e produtivo inverso ao brasileiro, fruto de pesados investimentos no setor educacional. 

    Fomos capitalistas, somos capitalistas e seremos capitalistas. Penso que a grande questão é evoluir dentro desta realidade, promovendo inclusão no processo produtivo, no aumento da massa consumidora, diminuindo desigualdades e trazendo mais dignidade para uma parcela maior da produção. É lógico que para muitos capitalistas selvagens e exclusivistas, isso não é interessante. Para estes, é importante propagar a iminência do monstro comunista para manter-se no seletíssimo grupo das minorias privilegiadas, explorando ao máximo mão de obra assalariada precariamente remunerada. 

      Para a reversão efetiva desta atual e perversa realidade, seriam necessários pesados investimentos em educação, ciência e tecnologia, além, é claro, da diminuição ou extinção da maléfica corrupção, este sim, um monstro ambidestro no espectro político que nos consome desde o Brasil colônia. 

     Enfim, o ineficaz comunismo aqui passou longe, e o nosso capitalismo é capenga, primário, altamente desigual. Para os que lucram excessivamente com o atual contexto, é interessante propagar o medo do bicho papão e manter a população desinformada, confundida e alienada. E é na falta de instrução e consciência de classe dos oprimidos que os opressores deste país apostam, e há de se reconhecer que estão tendo êxito há mais de quinhentos anos...


* O Eldoradense   

         

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