"Gibis"
Sempre vejo as pessoas dizerem
que é preciso fomentar o hábito pela leitura entre os jovens, e
essa é uma verdade, logicamente. O problema é que essa não é uma
tarefa tão fácil quanto antigamente, já que a juventude atual
possui uma gama enorme de atividades de entretenimento, como assistir
televisão, jogar games, navegar na internet e acesso a tantos
cacarecos eletrônicos interessantes, viciantes e sedutores. É
preciso criatividade para estimular essa molecada a ler.
E uma das alternativas que eu acredito ainda ser
eficiente para que se alcance tal objetivo, é a disseminação do
uso do bom e velho gibi. Isso mesmo, aquela revistinha em quadrinhos
cheia de gravuras e diálogos curtos em balões, que tanto sofre com
o preconceito literário, exatamente pela baixa complexidade de sua
linguagem . Eu sempre fui contrário à resistência que alguns
profissionais conservadores de educação possuem com relação às
revistinhas em quadrinhos, sendo que os mesmos alegam que os gibis
podem estimular a leitura errada e preguiçosa. Na boa, quando eu era
moleque li um monte de aventuras do Chico Bento e do Cebolinha e nem
por isso saí falando com sotaque caipira exagerado ou trocando o
“r” pelo “l”. Tanto é, que o Maurício de Souza é um ícone
do segmento, tendo feito parte da infância de muitos trintões e
balzaquianas razoavelmente articulados dos dias atuais.
As cartilhas de iniciação literária possuem um
importante papel no aprendizado, porém, no subconsciente infantil,
as mesmas estão ligadas exclusivamente à escola e às tarefas de
casa. Já os gibis possuem uma característica mais voltada ao lazer,
fazendo com que as crianças aprendam brincando; (ou brinquem
aprendendo, dependendo do ponto de vista). Além disso, as revistas
em quadrinhos estimulam o gosto pelas artes, já que muitos dos seus
jovens leitores começam a desenhar e a pintar, motivados pelas
gravuras coloridas em seus conteúdos, usando geralmente o método da
sobreposição. Com o passar dos anos, logicamente, deve ser feito o
trabalho de estímulo à leitura de romances, jornais e livros, de
forma gradual. Mas tenham certeza: para quem cresceu encarando a
leitura como uma forma de distração e lazer, esse processo acontece
de forma quase natural, pois tal atividade, para esses jovens,
dificilmente será vista como um fardo ou tarefa entediante.
Acredito que as Secretarias de Educação e Cultura
de todo o país, deveriam, além de disseminar o número de
bibliotecas, também dar maior ênfase a proliferação de
“gibitecas”, exatamente com o intuito de tornar de fato, as
revistas em quadrinhos um precioso complemento na missão de
estimular a leitura entre nossas crianças.
Obs. Essa pode ser uma opinião tendenciosa de quem
leu gibis durante toda a infância, adolescência e até início da
vida adulta, mas que atribui o gosto pela leitura e pela escrita, em
boa parte, ao acesso às revistas em quadrinhos.
* O Eldoradense
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