“Vozes e equívocos"
As impressões digitais são únicas de cada ser
humano, como se fossem uma carteira de identidade emitida pelo Criador, com a
diferença que não é possível falsificá-la. Porém, existe outra característica
também peculiar de cada indivíduo, não tão específica quanto as impressões
digitais, mas que compõe um traço pessoal bem marcante: a voz.
Há vozes inconfundíveis, daquelas que ao
serem ouvidas, torna inevitável ligar o nome à pessoa: Frank Sinatra é um
exemplo emblemático. Há também vozes ocultas, de sujeitos que falam e nunca
aparecem, aguçando a curiosidade dos ouvintes: é o caso do falecido Lombardi,
que trabalhou tantos anos anunciando produtos e serviços no programa Sílvio
Santos.
Mas as vozes também pregam peças, confundem e
podem provocar erros. Não por culpa delas, mas sim pela nossa, que muitas vezes
tiramos conclusões sobre outras pessoas baseando-se simplesmente na voz alheia.
Faça um exercício e prove o que digo: imagine se você não soubesse quem são
Anderson Silva e Nélson Ned. Continue imaginando agora, os dois discutindo em
um lugar fechado, longe dos seus olhos e ouvindo apenas a voz de cada um. Em
caso de ambos partirem para as vias de fato, e baseando-se apenas nas vozes,
qualquer pessoa concluirá que o cantor nanico dará uma verdadeira “sova” no
lutador de MMA, quando na realidade, Anderson Silva tem plenas condições de
trucidar Nelson Ned, dando-lhe uma surra daquelas que não sobre nem o DNA do oponente.
Tudo isso porque Anderson Silva tem voz de menininha manhosa e Nelson Ned, de
trovão. Perdoem-me pelo exemplo hipotético e violento, mas os senhores hão de
concordar: é um exemplo didático.
Tem gente que supõe que uma pessoa possa ser
privilegiada pela beleza ou não ouvindo somente a voz. É quase que inevitável
pensarmos que as mulheres que falam nos aparelhos de GPS, nos serviços de
telemarketing, nos aeroportos e até nos hospitais são verdadeiras divas, de tão
sensuais que são suas respectivas vozes, o que pode ser um equívoco, em alguns
casos.
Outra prova de indução ao erro promovido pela
voz é o provérbio que diz que “A voz do povo é a voz de Deus”. Nada a ver. Se
assim fosse, não teríamos tantos políticos incompetentes, atrapalhados e
corruptos eleitos exatamente através do clamor das maiorias. Definitivamente, a
voz do povo não é a voz de Deus! Que provérbio mais pretensioso...
* O Eldoradense
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