Policiais adentrando o CDP de Caiuá - Foto: Ifronteira
"Polícia para quem precisa"
Antes que eu seja mal interpretado por algum policial militar ou civil, antecipo que o texto não tem nada contra ambas as categorias, assim como creio que as digníssimas forças policiais do Estado de São Paulo nada tem contra os agentes penitenciários. O texto é sim, contrário à forma com que o governo estadual procede em meio à situações de greve, muitas vezes apelando pela truculência e pela falta de diálogo com seu próprio funcionalismo. Basta lembrar que as polícias civil e militar, que na última quinta-feira adentraram o CDP de Caiuá para fazer valer uma ordem judicial, em 2008 se enfrentaram na zona sul de São Paulo, mediante greve dos civis, naquela oportunidade. Uma cena patética, deprimente e vergonhosa, em que mais uma vez, o governo estadual foi o protagonista oculto e que seus "atores coadjuvantes" se digladiavam no braço e na borracha.
Mas justiça seja feita, na última quinta-feira, em Caiuá, parece não ter ocorrido excessos, apesar de muita boataria e de um ou outro bate boca isolado entre membros das três categorias dos agentes públicos. Porém, como era previsto e esperado, os 46 detentos adentraram o presídio, fazendo valer uma ordem judicial no mínimo contraditória, pois ao forçar a inclusão dos presidiários, foi infringida a Lei de Execução Penal, que estabelece condições dignas de cumprimento de pena aos presidiários. E o CDP de Caiuá, assim como a maioria dos presídios paulistas, encontra-se superlotado. E fica um outro esclarecimento: não estou, neste parágrafo, defendendo presidiários, mas sim, a lei.
Imagino que a maioria absoluta daqueles policiais militares e civis estivessem ali constrangidos, pois naquele cenário de negociação e tensão, só haviam trabalhadores e pais de família, à exceção daqueles que estavam dentro das viaturas aguardando uma vaga nas celas do "transbordante" CDP de Caiuá. Diga-se de passagem, a polícia militar nem direito de fazer greve tem. Os valorosos homens da corporação precisam enfrentar bandidos, salvar vidas, confrontar grevistas, ganhar mal, vestir a farda e aguentar a pressão e opressão dos governantes. Creio que não seja fácil, por isso, ao invés de criticá-los, solidarizo-me a eles.
Lembro-me do "massacre do Carandiru", quando o governador da época passou uma destas ordens mirabolantes para "chegar chegando" no complexo penitenciário, por questões políticas e eleitoreiras. Ordem que foi prontamente atendida pelo então coronel Ubiratan. Deu no que deu. Sobrou alguma coisa para o político? Obviamente que não. Sobrou para quem recebeu a ordem e não tem sequer o direito de questioná-la.
É por essas e outras que penso que o governo ao invés de apelar para suas forças policiais também mal pagas para resolver suas ingerências, deveria solucioná-las com diálogo, como prevê uma democracia. O governo deve usar suas forças policiais para combater traficantes, bandidos, estupradores e não colocá-las umas contra as outras, ou até mesmo contra professores, como ocorreu já no passado. Afinal, é como diz uma frase de uma música clássica dos Titãs: "Polícia para quem precisa, polícia para quem precisa de polícia..."
* O Eldoradense
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