Ontem à noite, em Brasília, aconteceu o que penso ser o ápice do delírio Bolsonarista: Um homem trouxe explosivos em seu próprio corpo, e no intuito de talvez se tornar um mártir patriota às vésperas do feriado da Proclamação da República, explodiu-se, tal qual homem bomba do Oriente Médio.
Deixo claro aqui que lamento profundamente o fato. Mas venho dizendo há tempos que existe uma seita fundamentalista de natureza político-religiosa que precisa ser combatida aos rigores da lei, respeitando, é claro, o princípio do contraditório, mas que não pode ser subestimada ou negligenciada.
Se traçarmos uma régua cronológica bem resumida, enumeramos os passos desta escalada rumo ao caos em alguns episódios pré e pós eleitorais, que alternaram elementos dignos de revolta, sarcásmo, e agora, sinceramente, piedade.
Cito, primeiramente, Carla Zambelli e a loucura de sair correndo armada atrás de um cidadão que a provocou. Posteriormente, o acesso de fúria de Roberto Jefferson contra a Polícia Federal. Pessoas públicas que utilizaram-se de violência explícita para sei lá qual objetivo. Veio o pleito e a vitória legítima de Lula nas urnas, contestada por uma minoria barulhenta, e claro, expressiva. Fecharam rodovias, prometeram o caos, impediram o direito de ir e vir das pessoas, queriam fechar o país por conta de um resultado eleitoral, quando, num passado pandêmico não muito distante, defendiam a economia a qualquer custo. Não surtiu efeito desejado. Passado algum tempo e não satisfeitos, depredaram os prédios públicos da Capital Federal, com objetivos ainda a serem esclarecidos pelos processos investigativos, enquanto o "mártir" estava curtindo a ressaca da própria derrota em solo norte-americano.
Em manifestações mais cômicas do que trágicas, pediram intervenção militar, e não atendidos, passaram a desrespeitar as Forças Armadas, outrora ídolos, agora, "melancias". Telefonaram para alienígenas, cantaram hino nacional para pneus, abraçaram a boleia do caminhão em rituais surreais de tão ridículos.
Enfim, existem os loucos e os incentivadores da loucura. Pais de família foram presos no 8 de janeiro, e infelizmente, mediante condutas bárbaras e levianas, deveriam ir mesmo para a cadeia. Estão pagando o pato, foram manipulados, lamento pelo desfecho, mas justiça é justiça. Cabe agora lutar juridicamente por diminuição das penas ou anistia. Sinceramente, acredito no êxito da primeira possibilidade, da segunda, duvido muito!
Em âmbito local, há quem tivesse organizado boicote econômico aos que pensavam diferente, num gesto covarde, tirano e semifascista. Desfizeram amizades, romperam laços familiares, misturaram diferenças políticas com pessoais. Tudo em nome desta seita com sincretismo político-religioso pra lá de questionável.
Ocorreram, neste decorrer de tempo, assassinatos pela mesma motivação. O ápice, que até ontem eu duvidaria que acontecesse, seria o suicídio psicótico de alguém em claro desequilíbrio emocional, cuja vida parecia ser movida exclusivamente pelo fanatismo político.
Pois é, infelizmente, aconteceu! Tal qual terrorista do Oriente Médio, um senhor, que provavelmente deveria ter problemas em suas faculdades mentais, atentou contra a própria vida, influenciado por discursos negacionistas, inflamados e violentos. Deve ter feito chorar - creio eu - seus familiares. Está sendo alvo de chacota, o que também penso ser de uma insensibilidade tamanha, pois, enfim, morreu um ser humano.
Tio França, segundo sua ex-exposa, falava em assassinar Alexandre de Moraes. Mandou mensagens para si mesmo anunciando seus planos, e diziam que em sua perturbação mental, trazia consigo o alter ego do vilão "Coringa". É muita loucura, é impensável, digno de pena.
Fica o apelo para que esta polarização não ganhe contornos ainda mais insanos, que voltemos a uma racionalidade mínima, de ambos os lados. O que falta acontecer, uma guerra civil? É fato que mediante o trágico e macabro acontecimento de ontem, a possibilidade de anistia fica cada vez mais distante...
* O Eldoradense